Encontrar o equilíbrio entre a maternidade e o mercado de trabalho pode ser desafiador, mas não é impossível. Embora o Brasil tenha um número alarmante de mulheres que deixam a ocupação após dar à luz, com 42% abandonando seus empregos e 35% continuando fora do mercado após um ano, de acordo com um estudo realizado pela London School of Economics and Political Science (LSE) em parceria com a Universidade Princeton, é possível conciliar o papel de mãe e profissional.

De acordo com a psicóloga Karina Perusso, ela mesma mãe de duas meninas, é muito comum haver dúvidas com relação à volta ao trabalho. “Isso pode gerar muita ansiedade e angústia para essa mãe, especialmente pelos pensamentos e emoções de culpa com relação a deixar seu bebê e continuar a exercer sua profissão”, conta. “Porém existe a possibilidade de haver um equilíbrio entre essas duas áreas da vida dessa mulher, principalmente quando ela busca uma rede de apoio com outras pessoas, instituições ou até mesmo com o pai”, explica a psicóloga.

Érica Marinho, mãe de uma menina de 4 anos, deixou a profissão por um tempo. “Mas depois que a Bella começou a ficar mais independente, senti eu mesma a necessidade de ter minha independência financeira de volta, mas o trabalho anterior já não cabia mais na nossa rotina”, conta. Buscou um trabalho que permitisse um equilíbrio entre a maternidade e a profissão, e encontrou no trabalho híbrido (que combina trabalho em casa e presencial) o formato ideal para isso.

“Consigo levar e buscar a Bella na escola, três vezes na semana ela fica em período integral e duas vezes meio período.  Dessa forma, consigo levá-la para almoçar e ela ficar a tarde trabalhando junto comigo em casa. Tento dar um pouco de atenção entre uma atividade e outra. À noite o jantar é de responsabilidade do pai e nos revezamos para tentar praticar alguma atividade física”, conta.

“É possível que a mulher retome o seu lugar no ambiente profissional, estabelecendo quais seriam suas redes de apoio, priorizando um tempo para o cuidado com essa criança após o seu dia, entendendo suas emoções frente a essa nova fase, avaliando as vantagens e desvantagens da decisão desse retorno”, diz Karina. Segundo ela, é importante também conversar com outras mães que estão passando por esse momento, compartilhar experiências e buscar apoio profissional para lidar com as emoções, como psicólogos e psiquiatras. Conversar com familiares é também uma boa forma de lidar com esse momento.

Giselle Quinteiro, mãe de gêmeos, contou com a ajuda da mãe para voltar ao consultório odontológico. “Como sou autônoma, coloquei uma dentista para trabalhar em meu lugar por pelo menos quatro meses, mas os pacientes não aceitaram e começaram a reclamar da profissional. Precisei retornar com apenas dois meses dos meus filhos e montei uma estrutura para conseguir dar conta. Durante o dia, minha mãe ficava com uma empregada em casa e eu voltava a cada duas horas para amamentar – o consultório ficava em outra cidade, era uma correria”, conta. À noite, ela contava com a ajuda de uma enfermeira para conseguir dormir ao menos um pouco. “O primeiro ano foi muito difícil, eles demandavam muito de mim”, diz.

Somente aos três anos veio a decisão de colocá-los na escola. “Dispensei a babá e fiquei com a empregada e minha mãe no período da manhã, os levava e buscava na escola, pois eles precisavam socializar”, conta. “Mesmo assim, não foi fácil e me sinto culpada todos os dias. Perdi muitas fases importantes dos meus filhos, quase não me lembro desse período. Não os vi andar, perdi as primeiras palavras. Também acho que bloqueei muita coisa da memória, pois não foi um tempo fácil”.

Quinze anos depois, ela reflete que teve pouco apoio do parceiro e muito de sua mãe. “A grande estrela disso tudo foi minha mãe. Ela me deu todo o suporte para que eu pudesse continuar. Uma coisa que eu fazia questão era de levar às consultas e de participar de todos os eventos escolares. Nisso consegui ser presente e me organizar, mas mesmo assim a culpa vem”, diz.

Ela diz que no início não foi fácil, mas que se orgulha de ter conseguido conciliar trabalho e maternidade. “Acho importante que eles me vejam feliz e realizada em minha profissão, penso que posso ser um bom exemplo para eles no futuro”, diz.

Cada pessoa tem uma forma de encontrar o que funciona melhor para si. É uma jornada que exige reflexão, autoconhecimento e muito diálogo com as pessoas que a partilham (sejam pais, avós, cuidadores, escola).

Alguns passos podem ajudar nesse momento:

  1. Defina prioridades: Reflita sobre o que é mais importante para você neste momento, sua carreira, seus filhos, finanças, saúde mental. Sabendo das suas prioridades, fica mais fácil tomar decisões.
  2. Converse: Comunique-se honestamente com seu parceiro, com sua família e com o seu empregador sobre expectativas e necessidades. Muitas vezes as preocupações são infundadas, você pode ter um ambiente de apoio e compreensão.
  3. Defina limites: Coloque limites entre trabalho e vida pessoal, definindo horários de trabalho e determinando horário para a família e para si. Tenha você como sua maior prioridade e saiba dizer não quando preciso.
  4. Tenha flexibilidade:  Saiba que equilibrar as duas tarefas não será fácil, às vezes o que você achava que funcionaria no início não funciona mais, tudo bem recalcular a rota e fazer ajustes na família ou na carreira.
  5. Tenha uma rede de apoio: Encontre pessoas que estão passando pela mesma jornada, como mães, grupos online, amigos e familiares. Ter uma rede de apoio para contar nos imprevistos é importante. Nem sempre você vai conseguir (e nem deve) fazer grande parte das atividades.
  6. Cuide de você mesma: O autocuidado é um item bastante importante da lista. Se você não estiver bem, será difícil exercer qualquer papel: pessoal e profissional. Reserve um tempo para atividades que te tragam relaxamento, faça exercícios, dance.
  7. Aceite a imperfeição: Não há vida perfeita. Embora muita gente romantize a maternidade, ser mãe não é fácil e conciliar carreira e maternidade, tampouco. Não há fórmulas prontas para exercer o equilíbrio entre maternidade e trabalho, está tudo bem não ser perfeita, ninguém é. Celebre seus sucessos, até os menores deles.

Encontrar o equilíbrio entre maternidade e trabalho pode ser desafiador, mas com autoconhecimento, comunicação eficaz, flexibilidade e, principalmente, rede de apoio, é possível navegar nessa jornada de forma satisfatória e gratificante.