Conheça a ex-atleta que deixou a seleção argentina para se tornar a primeira diretora mulher da ArcelorMittal

Executiva viajou o mundo a trabalho e foi promovida duas vezes quando estava prestes a dar à luz
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Experiência profissional de Paula Harraca é considerada “ponta de lança”, pois abre caminhos e inspira.

Paula Harraca, 41 anos, natural de Rosário, Argentina, é o tipo de mulher que serve de inspiração. Ex-atleta, ela trocou o país, o idioma, se tornou diretora na ArcelorMittal, se casou, foi promovida grávida, é mãe de duas meninas e fala de si mesma como aprendiz. “Eu não sou diretora, eu estou diretora. Somos muito além de um cargo”, pontua ela.

Como atleta, Paula foi goleira do time de hóquei de grama da seleção nacional da Argentina, sofreu 40 luxações em dois anos e, por isso, passou por duas cirurgias. Já na ArcelorMittal, ela assumiu o cargo de diretora de Estratégia, Inovação e Transformação do Negócio, e conta como foi sua trajetória ao longo dos anos.

A ArcelorMittal começou no Brasil com a Belgo Mineira e se instalou pouco tempo depois dos anos 2000 na Argentina, ao comprar uma empresa de aço da região. Ainda no começo, Paula participou de um processo seletivo e garantiu uma vaga de trainee. “Eu queria ter uma experiência internacional e me via atuar na área de pessoas. Eu tinha a visão do profissional que gera resultados. Gosto muito de números, negócios e gente”, relembra.

“As pessoas transformam organizações e as organizações transformam o mundo”, diz Paula. Quando entrou na empresa, ela comenta que era a única mulher vestida de operária. Após seis meses, o vice-presidente Jefferson De Paula, atual CEO ArcelorMittal Aços Longos LATAM e Mineração Brasil, a chamou para uma conversa. “Bati um papo de meia hora e ele falou ‘então tá bom, a partir da semana que vem você trabalha comigo’”.

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Ao começar a trabalhar no cargo, De Paula pediu para ela viajar ao Brasil e participar de um treinamento para que pudesse implementar o modelo de gestão do país na planta argentina da empresa. Após o processo de preparo, Paula passou a desempenhar o papel de treinadora, momento em que passaram por suas mãos desde membros da diretoria até operários que não sabiam ler. “Eu comecei a viver o ambiente industrial em busca de facilitar a implementação do modelo de gestão da empresa e dos projetos e melhoria”, relata.

Depois de dois anos, Paula partiu para a área de Recursos Humanos (RH). O objetivo da transição era implementar KPIs (sigla no inglês para Indicador-chave de Performance) e assumir projetos que de melhoria do clima organizacional. No tempo em que atuou nessa área, realizou projetos no Canadá, para treinar a operação da ArcelorMittal no país, e depois passou um ano e meio na América Central, para também treinar pessoas e multiplicar o modelo de gestão.

Pouco tempo depois, a empresa convidou a executiva para atuar na Europa. Paula conta que, na época, disse sim e pensou: “ok, somos dois”. Isso porque ela havia se casado com Marcelo Ventura, outro funcionário da ArcelorMittal, que também entrou na empresa como trainee, fato que a diretora conta aos risos. 

O casal partiu para o Velho Continente e deixou a casa recém-comprada sob os cuidados da mãe de Paula. Moraram por três anos na Espanha, com a missão de implementar um modelo de gestão. Após o período, a executiva assumiu a gerência de projetos de implementação de gestão de pessoas em toda a Europa.

Durante a crise de 2008, a empresa selecionou uma pessoa de cada uma das nove plantas das usinas da região (quatro na Espanha, três em Luxemburgo, uma na República Tcheca e uma na Polônia), que passariam a se reportar à Paula. “Essa foi minha primeira experiência de liderança formal, não só para implementar os KPIs, mas também para entender o olhar das pessoas que trabalhavam na empresa”, relata.

Três anos depois, De Paula, chefe da executiva, retorna ao Brasil e chama Paula para trabalhar ao seu lado. Entretanto, dessa vez, o marido havia recebido uma promoção na Europa. “Eu fiquei em um dilema”, conta ela. Nesse mesmo período, a expatriação de Paula havia expirado e seu chefe ofereceu a ela a opção de pedir um novo visto ou retornar à Argentina ou ao Brasil. Foi então que surgiu uma vaga nas terras brasileiras equivalente à posição para a qual o marido da executiva foi convidado a assumir na Espanha. O casal então resolveu voltar para o Brasil e ficar mais perto da família.

Enquanto Paula estava no Espírito Santo, atuou um ano e meio como gerente e, no período, ficou grávida de Emma, a primeira filha do casal. Com 38 semanas de gestação, Paula foi promovida a gerente geral. Ela relata que, surpresa, a reação que teve foi:  “Você percebeu que eu estou grávida? Isso quebra todos os paradigmas de carreiras femininas”.

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Depois de três anos no Espírito Santo, Ventura recebeu uma nova promoção, desta vez para uma vaga em Piracicaba, Interior de São Paulo. Durante o período, a diretora ficou grávida de Sara, segunda filha do casal. Também foi neste momento, e mais uma vez, que Paula foi promovida: no dia do parto da caçula, a executiva recebeu a notícia de que cuidaria da área comercial da empresa.

Sara nasceu na capital paulista e, no período, a vida de Paula foi de constantes viagens a trabalho, entre São Paulo e Piracicaba. A executiva levava as duas filhas sempre consigo e  contava com o apoio da mãe ou de uma babá para ajudá-la.

Como mãe, a diretora comenta que amamentou as duas meninas até os dois anos de idade. Ela levava as filhas para o trabalho e, com a ajuda de uma babá, tirava leite ou amamentava em salas reservadas do escritório. “Até hoje não sei como dei conta, foi loucura total, mas a gente consegue”.

Paula também enfatiza a importância da licença maternidade. “É preciso permitir esse período de afastamento porque esse é um momento único: ser mãe, descobrir o mundo, dar atenção plena ao bebê e descansar, porque é muito cansativo”, encerra.

“Me encantei com a área comercial. Entendi que a experiência dos clientes nada mais é do que um reflexo da experiência do colaborador e do quanto ele é importante para a empresa”, relata. No final de 2017, Paula assumiu a diretoria de pessoas, com a incorporação da Fundação ArcelorMittal e da área de comunicação.

Paula se tornou a primeira diretora mulher, sem ser engenheira, enquanto todos os outros a ocuparem cargos equivalentes eram engenheiros e homens de meia idade. Ela retrata a experiência como “ponta de lança, abrir caminho”, além de ressaltar a importância de não se deixar afetar por comentários ou opiniões e seguir firme no propósito. “Eu resgato coisas que ouvi no início de tudo que, no contexto atual, são discriminatórias. Coisas como: ‘Paula, como você vai trabalhar com essa blusa? Você não viu que estavam todos te olhando?’”, relembra a executiva, que continua ao dizer que apenas respondia com “ah, está bem”. Ela também diz que a sociedade mudou em relação à época em que começou sua carreira corporativa, mas que ainda é preciso erguer a cabeça e focar nos objetivos.

“A estratégia das mulheres que inauguram esses espaços deve ser a de não buscar o extremismo ou levar a causa como uma paixão desmedida. Eu sou super apaixonada, protagonista, entusiasta, mas vou usar isso para engajar as pessoas em vez de afastá-las”, enfatiza.

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No mês passado, a ArcelorMittal anunciou o fundo de investimentos Corporate Venture Capital. O capital total de R$ 100 milhões será investido ao longo dos próximos quatro anos em startups, como parte de uma iniciativa do novo setor de Inovação e Transformação do Negócio chefiado por Paula. Ela conta que tem o objetivo de “identificar startups que se enquadrem na estratégia da ArcelorMittal e que já tenham uma solução desenvolvida, para incorporar à companhia novos negócios, produtos e serviços”.

Ela finaliza ao dizer que as candidatas ao aporte são iniciativas ligadas à cadeia de valor da empresa e que incorporam novas tecnologias. A ideia é permitir o aumento da competitividade da companhia frente às concorrentes e enriquecer a proposta de valor da siderúrgica. “Nosso foco está nas startups que atuam na siderurgia, mineração, construção civil, na questão comercial e logística, varejo e sustentabilidade”.

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