Conheça Katherine Johnson, a matemática que ajudou a levar o homem à Lua

Matemática era uma das mulheres negras que formavam uma equipe no Centro de Pesquisa Langley, da NASA, em Virginia, nos Estados Unidos
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Johnson participou de numerosos projetos durante os 33 anos em que esteve na NASA. Foto: NASA

No dia 20 de julho, há exatos 52 anos, a nave da missão americana Apollo 11 levava os primeiros homens à Lua. O momento histórico foi transmitido ao vivo pela TV e assistido por mais de 500 milhões de pessoas ao redor do mundo. Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua, disse após os primeiros passos a frase que ficou marcada para a eternidade: “É um pequeno passo para um homem, um passo gigante para a humanidade”.

O que talvez muitas pessoas não saibam é que na terra, entre as espectadoras do evento, estava Katherine Johnson, a mulher que ajudou a humanidade a pisar na Lua.

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Ela era matemática e uma das mulheres negras que formavam uma equipe no Centro de Pesquisa Langley, da NASA, em Virginia, nos Estados Unidos, responsável por calcular a trajetória dos primeiros lançamentos espaciais.

Com o seu trabalho, Katherine forneceu os dados finais necessários para a missão que levou o astronauta John Glenn a orbitar a Terra pela primeira vez, em 1962, e também trabalhou para ajudar a missão Apolo 11 a ter sucesso.

Em 1962, quando a Nasa começou a usar computadores para a missão em que John Glenn orbitou a Terra pela primeira vez, Katherine foi consultada para verificar os cálculos da máquina e deu uma resposta positiva. “Se ela diz que são bons, então estou pronto para ir”, disse o astronauta, segundo lembrou a própria Katherine.

A frase e o acontecimento está no filme Estrelas Além do Tempo, de 2017, baseado no livro homônimo que conta a história de três mulheres negras que mudaram a história da NASA.

Paixão pelos números era de infância

Katherine Coleman Goble Johnson nasceu no dia 26 de agosto de 1918, em White Sulphur Springs, em Virgínia, nos EUA. Quando era criança, sempre adorou contar. Ela contava números, passos, garfos e tantas outras coisas. Seu pai trabalhava como madeireiro, agricultor e carpinteiro e sua mãe era ex-professora. Desde cedo, Katherine mostrou que tinha talento para matemática e seus pais enfatizavam a importância da educação para os filhos.

“A matemática foi sempre fácil para mim. Eu amava os números e os números amavam-me. E seguiam-me para todo o lado… era assim que a minha mente funcionava”, escreveu Katherine em Alcançar a Lua, a sua autobiografia de 2019.

Apesar do esforço de Katherine, o local onde a família vivia não oferecia escola para estudantes negros após a oitava série. Por isso, ela e seus quatro irmãos foram para o ensino médio no condado de Kanawha.

A futura matemática, física e cientista espacial norte-americana foi uma menina curiosa e brilhante. Ao 10 anos, ela já cursava o ensino médio, concluído quatro anos depois. Aos 15 anos, Katherine iniciou os estudos em HBCUs (universidades e faculdades exclusivamente para negros), onde estudou em todos os cursos que ofereciam matemática. 

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Ela se formou em 1937, com notas máximas em matemática e francês. Aos 18 anos e decidiu se mudar para Marion, também na Virginia, para ensinar matemática, francês e música em uma escola de ensino infantil para negros, já que não tinha oportunidades de alcançar cargos mais altos. 

Início da carreira na Nasa

Aos 34 anos, ela descobriu que a “Unidade de Computação da Área Oeste” do Laboratório Langley, pertencente ao Comitê Nacional para Aconselhamento sobre Aeronáutica da NACA (que depois se chamaria NASA) estava contratando mulheres afro-americanas para resolver problemas matemáticos. Na época, esses trabalhadores eram chamados de “computadores”.

Katherine se candidatou a um dos empregos, mas as vagas já tinham sido preenchidas. No ano seguinte, ela tentou de novo e conseguiu o trabalho. Ao lado de outras mulheres, ela integrava o grupo que fazia análises para tópicos, como a redução da rajada para as aeronaves.

Mesmo com a ascensão da tecnologia, naquela época o trabalho matemático era muito braçal e as contas feitas por computadores precisavam ser precisamente analisadas.

Por mais importante que fosse o seu cargo, essas mulheres ainda precisavam trabalhar segregadas, comendo e usando banheiros separados de seus colegas brancos até que essa divisão fosse terminada em 1958.

Desde o momento que entrou na NASA, ela fazia muitas perguntas. Era curiosa e queria aprender mais sobre seu trabalho. Na época, mulheres não participavam de reuniões, mas, como não havia lei que as proibissem, Katherine começou a frequentar os encontros. Em 1960, ela se tornou a primeira mulher de sua divisão a receber crédito por um relatório de pesquisa.

Inspiração para toda a eternidade

Em 4 de outubro de 1957, quando o soviético Sputnik se tornou o primeiro satélite artificial lançado ao espaço, começa ali uma corrida especial. Katherine passou a estudar como usar a geometria para viagens espaciais. Ela descobriu os caminhos para a espaçonave orbitar (dar a volta) na terra e pousar na Lua.

A matemática trabalhou para calcular a trajetória de voo de Alan Shepard, o primeiro norte-americano no espaço, em 1959. Calculou também a janela de lançamento do Projeto Mercury, em 1961. Um outro trabalho emblemático foi o cálculo para o retorno seguro do astronauta John Glenn após um voo orbital em 1962. Na época, os computadores entravam em cena como calculadoras gigantes que permitiam resultados mais rápidos e precisos. Mas as equações eram complexas e as máquinas podiam falhar.

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Ao nomear sua maior contribuição para a exploração espacial, a matemática falou sobre os cálculos que ajudaram a tornar realidade o Programa Apollo, que levou o homem à Lua. Mas sua pesquisa foi muito além nos 33 anos de contribuição. Ela escreveu 26 relatórios espaciais e participou da realização do Ônibus Espacial e do Satélite de Recursos Terrestres. Katherine só se aposentou da NASA em 1986, aos 68 anos.

Em 2015, aos 97 anos, recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade, considerada a maior condecoração civil dos Estados Unidos, por seus mais de 30 anos de trabalho na agência espacial e por ter inspirado diversas mulheres negras no país e ao redor do mundo. “Katherine G. Johnson recusou-se a ser limitada pelas expectativas da sociedade relativamente a gênero e raça, ao mesmo tempo que expandia os limites do alcance da humanidade”, disse Barack Obama na ocasião.

Jasmine Byrd, que trabalha atualmente no mesmo lugar um dia ocupado por Katherine Johnson, no edifício que hoje se chama “Katherine Johnson Computational Research Faciliity”, contou à Nasa sobre sua admiração pela matemática. “Sou grata pela ponte que Katherine construiu para que alguém como eu pudesse atravessá-la facilmente. Isso me ajuda a não pensar nessa oportunidade como certa. Eu sei que houve pessoas antes de mim que trabalharam muito e passaram por muitas turbulências para garantir que fosse mais fácil para pessoas como eu.”

Ela morreu em 24 de fevereiro de 2020, aos 101 anos.

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