Conheça a Black Princess Strong Golden Fem’Ale, uma cerveja nacional produzida apenas por mulheres

Novo rótulo sazonal terá 100% da renda revertida para instituições que acolhem vítimas da violência doméstica
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Duda Dusi
A Strong Golden Fem’Ale, do selo Black Princess, é feita apenas por mulheres (Foto: Duda Dusi)

Os amantes da cerveja concordam que o lúpulo – uma planta trepadeira que cresce principalmente em regiões de clima temperado – é a alma da bebida. Afinal, ele é o grande responsável pelo amargor, pelo aroma e pelo sabor da iguaria. No entanto, embora “lúpulo” seja um substantivo masculino, é o gênero feminino que ganha destaque nessa relação com a produção cervejeira. Apenas a flor da planta, a espécie feminina, é utilizada em seu processo de fabricação. Que me perdoem os homens, mas a alma da cerveja é feminina. 

Na semana passada, a Elas Que Lucrem participou de uma experiência que corrobora essa visão. No Centro Cervejeiro da Serra, espaço para experimentos da fábrica do Grupo Petrópolis, no Rio de Janeiro, um seleto grupo de pessoas foi convidado para acompanhar o envase da primeira cerveja da empresa feita apenas por mulheres. Com oito fábricas em operação pelo Brasil, o grupo emprega cerca de 24 mil pessoas e produz mais de 10 marcas diferentes de bebidas – de cervejas a energéticos – como Itaipava, Crystal, Black Princess, Petra, Weltenburger, TNT Energy Drink e Magneto. A estrutura da companhia – 100% nacional – impressiona, mas nenhuma dessas milhares de garrafas produzidas por dia contavam com uma atuação exclusivamente feminina – pelo menos não até o último mês. 

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Feita apenas por mulheres, a Strong Golden Fem’Ale, do selo Black Princess, veio para mudar esse cenário. Potente e alcoólico, o novo rótulo sazonal – ainda sem data definida para chegar ao mercado – busca representar a força do universo feminino e promete reverter 100% de sua renda para a ONG Tamo Juntas, organização social que presta assessoria multidisciplinar (jurídica, psicológica, social e pedagógica) gratuita para mulheres em situação de violência doméstica. 

Rótulo Black Princess (Foto: Duda Dusi)

Com microfones nas mãos e tonéis de cerveja ao fundo, as mestres-cervejeiras do Grupo Petrópolis ainda se mostram surpresas com o fato de a bebida criada por elas ter saído do papel não apenas como uma marca, mas como um projeto de impacto social. Ao falar sobre o processo de criação, revelam que começaram a produção do rótulo como uma experiência interna do centro cervejeiro – um espaço essencialmente estabelecido para estimular a criatividade -, sem ambição de que a experiência pudesse se transformar em algo a mais.

“Nós, as mulheres da companhia, começamos a produzir uma cerveja forte e potente no início de agosto. A ideia era mostrar a força feminina por meio do sabor”, conta Liane Bemme, uma das mestres-cervejeiras do grupo. Já que apenas mulheres estavam envolvidas no processo, elas queriam acabar com a ideia de que a bebida feminina precisa ser mais leve e adocicada, com essência de frutas e hibisco. “Quando contamos o estilo que tínhamos escolhido para a cerveja – uma ale – todos ficaram chocados. ‘Mulher consumindo algo tão alcoólico e potente?’, perguntavam. Sim!, porque é isso que nos representa”, acrescenta Ana Paula Nicolino, especialista sensorial e sommelier. 

“As mulheres já faziam cerveja no início da história, mas foram afastadas dessa função com o tempo. Em determinado momento, não podíamos nem entrar nas cervejarias se estivéssemos menstruadas. Achavam que desandaria o processo. Agora estamos aqui, produzindo nossa própria cerveja”, destaca Ana. 

Na Babilônia e na Suméria, há pelo menos 7.000 anos, as mulheres tinham o monopólio da administração das tabernas – de certa forma, os bares da época eram “lugar de mulher”. Já entre os vikings, existia uma lei de que somente as mulheres podiam produzir a bebida. Até o final do século 18, quando a produção da cerveja se tornou um negócio rentável e foi assumida pelos homens, eram as donas de casa que produziam a bebida como uma atividade doméstica. Mais do que a alma do negócio, o universo feminino faz parte da origem da cerveja. Quase como um ato de reparação histórica, o lançamento de rótulos criados por mulheres é um evento a se comemorar. 

Quando o setor de marketing do grupo se deu conta do potencial da experiência para a representatividade feminina, o destino da Strong Golden Fem’Ale mudou. Mas tudo realmente ganhou forma graças a um motivo um tanto inusitado. “O DJ Alok é um dos nossos parceiros e acabamos nos aproximando de seus projetos pessoais por conta da colaboração. Ouvimos a música ‘180’, que foi lançada em agosto e faz referência à central de denúncias e emergência de violência contra a mulher, e isso despertou nosso papel de responsabilidade social como cervejaria”, conta Eliana Cassandre, head de marketing da Black Princess e do Grupo Petrópolis. 

“Sabemos que a violência doméstica cresceu durante a pandemia em função do convívio intenso dentro de casa e do consumo elevado de álcool. Então, nosso dever é criar projetos que façam a cerveja voltar ao espaço de origem dela, que é transmitir alegria e união, não dor”, acrescenta. Foi a partir desse insight que a gestão da área se uniu com as mestres-cervejeiras para realmente lançar a Strong Golden Fem’Ale como um rótulo que representasse a presença feminina no mundo da bebida e ainda provocasse um impacto efetivo na comunidade. 

“Precisamos colocar a mulher no centro de tudo. Para incentivar o ato de denunciar, nosso rótulo tem referência ao 180 na ilustração”, diz Eliana, referindo-se ao número da Central de Atendimento à Mulher. Além disso, a imagem foi criada pela jovem Tami Lemos, idealizadora do movimento Crie Como Uma Garota, o que fortalece ainda mais a presença feminina em todos os pilares de criação do rótulo. “Tivemos carta branca para produzir do nosso jeito, sem interferência masculina”, conta Liane. 

Ao todo, seis mulheres, entre trainees, sommeliers e mestres-cervejeiras, colaboraram com a criação da cerveja, uma ale complexa e forte. No paladar, é potente e equilibrada, com um teor alcoólico de 7,4%. Para harmonizar, o rótulo combina bem com pratos gordurosos e frutos do mar, além de massas com molho pesto ou vermelho e queijos como canastra, gruyère, gouda, parmesão e roquefort. Para as criadoras, uma receita perfeita em sabor, impacto e significado. 

Após contarem a história da iniciativa, as profissionais por trás da novidade correram para apertar o botão de envase da primeira garrafa. Em uma planta onde centenas de garrafas long neck correm por uma esteira recebendo as tampas e embalagens, elas pressionaram – juntas – o botão de comando e comemoraram a primeira unidade, que será vendida no e-commerce da Black Princess. Para elas, o gesto extrapolou qualquer mera simbologia. “Isso é só o começo. É o início de um projeto que tem o on, mas não tem o off ainda”, conclui a mestre-cervejeira Liane.

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