“Crescemos sabendo que não teremos uma segunda chance”, diz Michelle Obama sobre o racismo

Ex-primeira-dama dos Estados Unidos disse, ainda, durante evento, que tem orgulho da imagem que representa para a população negra
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Michelle Obama, advogada e ex-primeira-dama dos Estados Unidos (Foto: Official White House Photo by Chuck Kennedy

Sentada em frente à tela de um computador durante a conferência virtual da SIGNAL – evento anual da plataforma de comunicações em nuvem Twilio -, a ex-primeira-dama dos Estados Unidos Michelle Obama interage com sua assistente, que está atrás das câmeras. “Esses dias, ela fez dreads no  cabelo e ficou lindo. Pouco tempo depois, veio me dizer que pretendia tirar porque não sabia se o penteado a deixava com uma aparência profissional. Eu disse que estava incrível e perguntei por que ela achava aquilo”, conta Michelle, que emenda imediatamente uma explicação para a indagação. “Se ela quiser tirar os dreads, tudo bem, mas precisa ser por ela, não pelos outros. Vamos aparecer como queremos, e as pessoas têm de lidar com isso. Dreads são lindos e profissionais.” 

Durante este momento descontraído da conferência, realizada na tarde de ontem (21), a advogada de formação resumiu a filosofia que carrega como mulher, figura pública e mãe: “Tudo que eu posso controlar é como eu me sinto sobre mim. É o que eu digo para as mulheres negras mais jovens. Aja por você e não deixe que a visão das outras pessoas a mobilize.” Como a primeira mulher negra a ocupar o posto de primeira-dama dos Estados Unidos, ela sabe bem do que está falando.

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“Entramos na Casa Branca já na faixa dos 40 anos. Sabíamos que o país não ia mudar de um dia para o outro com a nossa chegada, mas praticamos o hábito da excelência, já que não tínhamos espaço para errar no nosso governo. Não costumamos receber uma segunda chance, por isso precisamos fazer o nosso melhor sempre. Crescemos sabendo disso”, explica. 

Como advogada graduada pela Universidade Princeton e pela Harvard Law School, Michelle agiu da mesma forma no início de sua trajetória profissional: expondo os motivos pelos quais estava ali e deixando de lado o racismo que pairava sobre sua imagem. Mas, na prática, as coisas não são tão simples assim. Oferecer o melhor é o caminho certo, mas não significa que o percurso será livre de dores e cicatrizes. 

“Você se sente invisível. É triste que ainda estejamos tratando as pessoas de forma diferente por conta da cor da pele. Quando eu era mais jovem, pensava em como fazer com que as pessoas me enxergassem. Só depois eu entendi que o mais importante era saber quem eu sou e o que importa para mim”, revela. “Se eu sei os meus valores, começo a não ser mais afetada pela percepção que as pessoas têm de mim. Eu sei que estamos exaustos, mas precisamos nos impor. O mundo não vai mudar se formos imobilizados pela frustração.” 

Essa maneira de lidar com o mundo vem sendo adotada por Michelle a vida inteira. No entanto, quando conheceu o marido, o ex-presidente norte-americano Barack Obama, esses sentimentos se intensificaram. Na época, embora estivesse em um ótimo emprego na gigante de advocacia Sidley Austin, destacando-se pelo seu trabalho, a advogada levantava da cama todos os dias sentindo que não estava no lugar certo. “Naquela época, ele já era muito produtivo e sonhador. Atuava como organizador comunitário e advogava em defesa de direitos civis. E eu estava questionando o que queria da minha vida. Ele me ajudou a entender que, no final das contas, aquela rotina que eu estava vivendo não era o suficiente para mim”, recorda. Após essa percepção, Michelle começou a se envolver com política para se aproximar da comunidade. Trabalhou como ajudante do prefeito de Chicago Richard M. Daley e para o Centro Médico da Universidade da cidade.

A busca por um propósito e a vontade de impactar pessoas fez com que passasse por uma transição de carreira ainda na juventude – mas ela mal podia imaginar o impacto que um dia teria na vida de outras mulheres. Durante a conferência, uma foto que viralizou na internet em 2018 foi mostrada. Nela, há a imagem de uma criança negra de dois anos admirando o retrato oficial de Michelle Obama no Museu Smithsonian National Portrait Gallery, em Washington. Na época, a mãe da criança disse para a imprensa que a sua filha, Parker, achava que Michelle fosse uma rainha – e, por isso, queria ser rainha também. Rindo após lembrar do episódio, a ex-primeira-dama disse que se orgulha da imagem que representa para a população negra, principalmente para os mais jovens. 

“Um dos maiores presentes que eu ganhei como primeira-dama foi a oportunidade de pisar em lugares que nunca pisaria e de conversar com pessoas que nunca conheceria. Tudo isso porque somos uma população apartada. Não somos vizinhos e não nos conhecemos”, destaca. Para ela, uma das maneiras de quebrar essa barreira racial é estimular espaços diversos e verdadeiramente equilibrados. “Uma sala de aula com 8% de presença negra não é algo aceitável. Isso não é diversidade. Esses 8% se sentem inseguros e sozinhos. Precisamos realmente nos unir com diversidade para criarmos ambientes seguros e saudáveis.” Para ela, já passou da hora de as empresas colocarem seus esforços em prática em prol da igualdade no mercado de trabalho. 

Na sua opinião, a ferocidade das mídias sociais está atrapalhando um pouco o avanço nessa direção, já que há muito espaço para fake news nesta nova terra sem lei. “Quando começamos na Casa Branca, não existia iPhone, Twitter ou Tik Tok. Isso é um exemplo de como a nossa sociedade mudou rápido. E claro que não estamos sabendo lidar com isso. Muitas interpretações sobre uma única informação, mas onde está a verdade? Na época do Black Lives Matter, algumas pessoas enxergavam os manifestantes como extremistas”, explica Michelle, que aposta suas fichas de esperança nas próximas gerações. 

“Eu já fiz muita coisa nessa vida. Mas o trabalho que mais me dá mais orgulho é a criação das minhas duas filhas. É uma responsabilidade imensa trazer dois seres humanos ao mundo como mulheres lindas, seguras e independentes.” É na imagem de Malia e Sasha – e na de tantos outros jovens, como Parker, a pequena que admirou seu retrato no museu – que Michelle enxerga um possível mundo melhor, onde ninguém precise buscar incansavelmente a perfeição por conta da cor da pele.

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