Mulher, mãe e LGBTQIAP+: como Carolina Cabral foi de estagiária a CEO da Nimbi

Em menos de seis meses desde que assumiu o cargo, executiva já mapeou dados sobre minorias e implementou iniciativas para aumentar a diversidade na empresa
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Carolina Cabral
53% dos colaboradores da Nimbi são mulheres (Foto: Divulgação)

Aos 34 anos, Carolina Cabral alcançou um dos cargos menos ocupados pelas mulheres em todo o mundo: o de CEO. No Brasil, apenas 8% delas chegam à posição, segundo uma pesquisa realizada pela Fundação Dom Cabral (FDC) em parceria com a consultoria Michael Page. A executiva assumiu, em julho deste ano, a liderança da companhia de tecnologia Nimbi, especializada em soluções de supply chain. 

Para crescer em um setor onde a ascensão das mulheres é pouco frequente, Carolina precisou galgar um passo de cada vez. A executiva iniciou sua vida profissional na mesma empresa da qual hoje é CEO, aos 19 anos, quando ainda cursava administração. Como estagiária na filial de Joinville (SC), sua cidade natal, lidava principalmente com tarefas ligadas ao setor administrativo. 

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Em pouco mais de um ano, a joinvilense passou ao cargo de assistente e, a partir daí, iniciou uma jornada quase imersiva por todos os setores e unidades da Nimbi – de Curitiba ao Rio, chegando a São Paulo. Foi assim que, segundo ela, adquiriu conhecimento sobre as diferentes áreas e processos da corporação. 

Atualmente, a estagiária que virou CEO reconhece que passar por todas essas etapas e conhecer – em detalhes – a arquitetura da empresa foi fundamental para lidar com as demandas que tem agora na liderança. “Hoje, quando qualquer pessoa me fala de uma situação em alguma área da corporação, seja boa ou até um problema, eu sei exatamente sobre o que ela está falando porque eu vivi aquilo de alguma forma”, conta. 

Carolina diz que nunca planejou estar na posição de CEO, mas sempre teve o desejo de transformar a cultura da empresa. “Queria poder ter mais independência para implementar as práticas nas quais acredito”, explica. Somente quando já estava ocupando cargos de liderança é que a ideia de chegar ao posto começou a seduzi-la.

Agora que o sonho se tornou realidade, um dos principais objetivos da CEO, entre tantos outros, envolve iniciativas para aumentar a diversidade, principalmente em cargos de liderança. “Ter pessoas com culturas e vivências diferentes agrega valor à companhia”, afirma. 

Atualmente, dos 230 colaboradores da empresa, 53% deles são do sexo feminino. Na diretoria, o índice é ainda mais alto: das cinco posições, três são mulheres. Destas, duas são LGBTQIAP+, incluindo a própria Carolina.

Ainda que os números estejam acima da média, a executiva explica que a empresa nunca focou em tornar a equipe mais plural, embora também nunca tenha colocado qualquer entrave à contratação de colaboradores de grupos sub-representados. A partir de sua gestão, garante ela, a companhia tem buscado implementar ações mais assertivas para admitir um número maior de profissionais pertencentes às minorias. 

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O primeiro passo foi realizar uma parceria com a TransEmpregos – um projeto de empregabilidade para pessoas transgêneras -, para levar colaboradores desse grupo às posições de liderança. Para a executiva, dar poder para que esses funcionários tomem decisões e articulem políticas junto ao restante do time é mais importante do que apenas ouvir as dores deles. “Quanto mais trouxermos essas lideranças, mais inclusivo e fluido será esse processo”, argumenta. 

Além da iniciativa, Carolina conta que, para traçar os planos de inclusão, houve a realização de um censo na empresa, que mapeou a situação da diversidade racial, de gênero, de orientação sexual, de PCDs e outros indicadores relacionados às minorias na Nimbi. “Assim, foi possível definir metas e políticas, de acordo com nossas necessidades”, diz.

Machismo

Carolina tem plena consciência de que chegar ao mais alto posto de uma companhia sendo mulher, mãe e lésbica é uma oportunidade para poucas. Afinal, nem todas têm as mesmas chances e, além disso, ainda precisam conviver com a disparidade entre homens e mulheres no mercado de trabalho. Para ela, uma das principais maneiras de transformar esse cenário é aculturar o time para evitar o machismo e o sexismo. “Essas questões ainda precisam ser políticas da empresa. É algo que precisa ser direcionado, porque se não for, não vai acontecer.”

Mesmo que não tenha tido o crescimento profissional prejudicado por ser mulher, a administradora reconhece que passou por situações que, segundo ela, nenhum homem passaria. Carolina conta que vivenciou casos de assédio e que já foi ignorada em reuniões, quando era diretora, por clientes que preferiam se dirigir a um funcionário homem em vez de falar com ela. 

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A CEO ressalta que, em sua visão, a única maneira de lidar com esses obstáculos, é enfrentá-los com posicionamento e denúncia, além de buscar por empresas que assistam e apoiem as funcionárias nessas ocasiões. “Não adianta a gente falar se a empresa fecha os olhos”, diz. 

Apoio e inspiração 

Para a executiva, uma coisa foi determinante em sua trajetória: o apoio e os ensinamentos da mãe. Ela conta que, nos momentos em que precisou se distanciar da família por morar em locais muito afastados, foi a genitora quem deu incentivo e ofereceu segurança para que ela alçasse voos cada vez mais altos. “Ela sempre me dizia para tentar. Caso a experiência não fosse o que eu esperava, eu sempre tinha as portas abertas para voltar.”

Outro aspecto fundamental foi crescer orientada por uma mulher forte, capaz de assumir sozinha a criação da filha aos 21 anos. Uma inspiração para que Carolina tivesse coragem suficiente para se arriscar em busca de seus objetivos. “Eu tinha o exemplo dentro de casa. Foi por causa dele que eu sempre tentava e buscava mais.”

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