Endividamento vs. desemprego: quando a situação financeira vira um obstáculo para quem busca trabalho

Saldo negativo na conta pode reduzir desempenho profissional e acarretar danos psicológicos
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O descontrole emocional ocasionado pelo desemprego pode contribuir para uma balança negativa nas finanças (Foto: cookie studio/Free Pik)

Atualmente, o Brasil possui 14,4 milhões de desempregados, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). E, embora parte desse grupo fique mais motivado a encontrar um trabalho à medida que os boletos atrasados se acumulam, outros não conseguem se recolocar no mercado justamente por conta desse processo de endividamento. Num verdadeiro efeito “bola de neve”, a falta de dinheiro acaba sabotando a busca por um emprego e agravando o andamento – já ruim – da vida financeira. 

Para a especialista em comunicação da negociadora econômica Meu Acerto, Rafaela Baião, o termo-chave para compreender esse ciclo é a saúde emocional. Fatores como  ansiedade, estresse, irritação, tristeza, desânimo, angústia e vergonha, explicam ela, são desencadeadores de sentimentos como a insegurança e a desmotivação. Esses, por sua vez, impactam negativamente o desempenho do profissional durante entrevistas, processos seletivos e até na carreira como um todo. “É importante lembrar que a separação entre vida pessoal e vida profissional é um mito”, afirma.

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Para se ter uma ideia, a gestora de ativos BlackRock descobriu que a falta de dinheiro é a principal causa de estresse para 58% dos brasileiros. Além disso, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), 80% das pessoas inadimplentes sofreram impacto emocional negativo por conta das dívidas.

O problema também tende a piorar quando o profissional se depara com recrutamentos que utilizam a situação financeira legal como critério de seleção de vagas. Apesar de ser considerada discriminatória pelo Ministério Público do Trabalho, a prática ainda é utilizada por empresas que exigem que os funcionários tenham o nome limpo e um score de crédito satisfatório. Sobre esse aspecto, a especialista explica que as companhias têm o direito de acessar o CPF do candidato para realizar pesquisas do tipo, mas que isso não pode ser usado como pretexto para exclusão. “Em casos como esse, o indivíduo pode, e deve, recorrer à Justiça”, alerta Rafaela. 

Na prática, a regra já mostrou que não tem consenso. “Em 2012, um profissional entrou com uma ação judicial alegando ter sido discriminado no processo seletivo por conta de sua situação financeira. Em uma decisão inédita e bastante surpreendente, o Tribunal Superior do Trabalho deu ganho de causa à empresa, justificando que a vaga em questão demandava controle das finanças da empresa e que, por isso, o candidato não teria condições de exercer a função”, relata. 

O contrário também acontece

Além da ausência de renda, o descontrole emocional ocasionado pelo desemprego pode contribuir para uma balança negativa nas finanças. Diante do pessimismo da  situação, as compras e os excessos – visto muitas vezes como “recompensas” – podem se transformar em pequenas fugas prazerosas da realidade, levando a gastos compulsivos e mal planejados.  “Um pensamento comum é: ‘Se eu já estou endividado, um pouco mais não mudará a minha situação’”, exemplifica Débora Ribeiro, gerente de parcerias estratégicas da recrutadora Robert Half. 

Nesses casos, ainda há o risco de uma causalidade contrária: aquele indivíduo que, de tão endividado, acaba desenvolvendo danos psicológicos e perdendo o emprego por falta de desempenho. Em ambas as situações, a educação financeira entra como principal ferramenta de prevenção e até de gerenciamento de crise. A própria reserva financeira, por exemplo, é uma boa maneira de evitar ciclos viciosos como estes. 

Na visão de Débora, ainda é comum que as mulheres tenham mais dificuldade com esse controle, já que o conhecimento financeiro é culturalmente mais incentivado entre o público masculino. “Uma prova prática disso é que a maior parte das pessoas que hoje investem seu dinheiro na bolsa de valores é formada por homens”, afirma. 

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Ciclo vicioso tem solução

Para escapar do ciclo vicioso, existem duas ações primordiais: a quitação das dívidas e a busca por ajuda psicológica. 

No primeiro caso, explica Débora, pode valer a pena procurar por serviços especializados em negociações. Além de reduzir o montante total a ser pago, ainda é possível entrar em acordos que estendam o prazo de pagamento e diversifiquem a forma de quitação. Para que a situação não se repita, também é interessante que a pessoa reformule sua relação com o dinheiro, iniciando um processo de revisão de gastos e de orçamento. “Entrar em uma situação de endividamento é muito mais fácil do que sair dela”, ressalta Rafaela. 

Já em relação aos danos psicológicos, os conselhos vão além da busca por um profissional. Para as especialistas, desmistificar o tabu em torno do dinheiro abre caminhos para conversas mais diretas a respeito do tema, facilitando os famosos e necessários desabafos. Com isso, a insegurança e o sofrimento tendem a diminuir, afinal, as pessoas passarão a perceber que a limitação financeira é uma dor que atinge a maior parte da população. “É preciso fazer alguns sacrifícios para colocar a vida financeira em dia, mas o mais importante é ter em mente que, no final, todo esse sacrifício vai valer a pena, porque vai gerar mais tranquilidade em todas as áreas da vida, inclusive na profissional”, conclui Rafaela.

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