Nubank: mercado questiona valor de empresa e ação para IPO

Porte do banco digital é comparado com concorrentes por analistas que afirmam ver números superestimados para a abertura de capital
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Junto com o barulho causado pelo Nubank no lançamento de sua oferta pública inicial (IPO na sigla em inglês) no início da semana, surgiram também polêmicas em torno do valor de mercado que o próprio banco digital levou em conta para estabelecer a faixa de preços para suas ações.

As ações a serem negociadas na Bolsa de Nova York sob o símbolo (ticker) NU foram precificadas dentro de uma faixa entre US$ 10 a US$ 11 que estaria em linha com o valor de mercado do banco a partir de US$ 49 bilhões. Um montante já revisado para baixo. Antes da divulgação do prospecto do IPO, o Nubank havia divulgado como próprio valor de mercado cerca de US$ 100 bilhões.

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Tanto o valor de mercado, quanto a faixa indicativa de preços das ações são considerados superestimados pela analista de investimentos da Empiricus, Larissa Quaresma, especialista em valuation, que é o processo de averiguação do valor justo de um ativo ou companhia. Ela lembra que, em reais, este valor de mercado divulgado pelo Nubank é de R$ 271 bilhões e supera o Itaú Unibanco que vale R$ 216 bilhões. “Vamos lembrar que o Itaú tem uma carteira de crédito de R$ 700 bilhões de reais e o Nubank está muito longe disso”, afirma.

Larissa Quaresma explica que o valor de mercado do Nubank precisou ser calculado pela receita em vez do lucro líquido, o que não costuma ser comum. Isso porque o banco vem apresentando prejuízos até o momento. “Seria uma conta esquisita verificar o valor da empresa pelo lucro negativo”, ressalta. Assumindo que o banco não possui dívida, ela chega a um valor de mercado de 100 vezes a receita.

“Não tem nada parecido. Comparando com outras start ups, é um valor muito alto. A StoneCo., por exemplo, é avaliada em sete vezes a receita, o PagSeguro tem valor de cinco vezes a receita e o Paypall vale nove vezes sua receita”. Nesta conta, o valor justo de mercado do Nubank seria de US$ 27,4 bilhões. “Um múltiplo de 25 vezes a receita do banco”, explica a analista.

A partir do cálculo do valor de mercado da empresa, Larissa Quaresma chega ao preço justo da ação a ser negociada na NYSE que é de US$ 6,02, bem abaixo do preço anunciado pelo Nubank. A analista afirma que, diante da distorção, a recomendação no momento é de não  comprar as ações.

O relatório completo da Empiricus sobre o IPO deve ser publicado no final de novembro, duas semanas antes do fim do período de reserva das ações do Nubank que é 7 de dezembro.

A analista pondera que o IPO será apresentado para grandes investidores estrangeiros que têm uma percepção diferente de empresas de tecnologia. “Os múltiplos que eles topam pagar são maiores. Além disso, o Nubank está sendo vendido lá fora como o grande banco digital dos mercados emergentes por estar no Brasil, México e seguindo para a Colômbia. Ofertas e IPOs lá dependem muito mais do momento de mercado do que da qualidade da empresa”, explica.

Em um programa de partilha de ações, o Nubank deve oferecer para sua base de 48 milhões de clientes um recibo de ação (BDR), que receberá o código NUBR33, para ser negociada na bolsa brasileira. A BDR equivale a aproximadamente 1/6 da ação do Nubank nos Estados Unidos. Para ter direito a uma BDR, o cliente precisa, entre algumas condições, ter conta ativa e não ter pendências no cartão de crédito do banco. Neste caso, Larissa Quaresma diz que aceitar a oferta do banco é uma boa oportunidade. “A recomendação é a mesma independentemente do tipo de investidor. Se fosse para comprar, eu não recomendaria agora. Mas, de graça, até injeção na testa”, brinca.

Luciene Miranda é repórter especial na Elas Que Lucrem

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