Fora de campo: jogadoras de futebol apostam em investimentos para garantir aposentadoria

Sem os benefícios financeiros do time masculino, as mulheres encaram um planejamento minucioso para deixarem o esporte com estabilidade
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Thaisinha, 27, é uma das jogadores que investe para garantir a estabilidade (Foto: Arquivo Pessoal)

Paulo Roberto Falcão, camisa 15 da Seleção Brasileira, já dizia, na década de 1980, que “o jogador de futebol morre duas vezes: quando para de jogar e quando morre mesmo”. Atrás do saudosismo do esporte, no entanto, está a realidade dos atletas que já iniciam a carreira perto da data de validade – passando bem longe dos 30 ou 35  anos de contribuição obrigatória prevista pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Assim, além da emoção e, quem sabe?, da frustração, por pendurar as chuteiras, eles ainda precisam lidar com o fato de terem a sua principal fonte de renda interrompida muito antes dos boletos pararem de chegar. 

A questão faz ainda mais sentido quando se pensa no futebol feminino, categoria na qual as jogadoras recebem muito menos do que o correspondente masculino (em 2018, por exemplo, Marta recebia o equivalente a 0,3% do salário do Neymar). Fora do mercado de trabalho e sem um acúmulo expressivo de riqueza ao longo dos anos, as jogadoras da nova geração estão apostando nos investimentos como uma garantia de aposentadoria mais tranquila. 

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É o caso de Tayla, de 29 anos, e Thaisinha, de 27, ambas atletas do time feminino do Santos e com passagens pela Seleção Brasileira de Futebol. Por indicação dos respectivos empresários, as duas vêm contando com o apoio da assessora de investimentos Renata Lima, da corretora Delta Flow, para realizar um planejamento financeiro que atenda às necessidades e ajude a realizar os sonhos de vida da dupla – que, como adianta a especialista, são bem diferentes das dos homens. 

Pensando no futuro, a zagueira Tayla, por exemplo, já está cursando educação física. “Venho de algumas lesões e calculo que devo me aposentar aos 34 ou 35 anos”, diz. Mas, apesar da graduação, ela avisa que quer continuar trabalhando com estabilidade e independência, o que torna os investimentos uma parte importante do planejamento. “No início, eu tinha muita curiosidade e também muito receio. Mas logo percebi que para viver do meu patrimônio eu precisava lidar de maneira bem responsável com meu dinheiro, mesmo que isso incluísse ser ousada às vezes”, explica. 

Filha e neta de empregadas domésticas, a atleta admite que já chegou até a ter uma trava para gastar o montante que recebia, por medo de voltar à estaca zero. “Nunca passei necessidade, mas poupava muito por receio de perder alguma coisa. Isso foi mudando de um tempo para cá”, completa. Para ela, ser capaz de controlar o próprio rumo por meio da conta bancária é empoderador. Ao se autointitular feminista, a jogadora afirma que incentiva que outras mulheres aprendam a lidar com as finanças. “Sempre digo para as meninas buscarem sua independência e serem livres.” 

Chefe de família, Thaisinha, por sua vez,  já investe há quatro anos, sempre com cuidado para que a aposentadoria permita uma vida estável para ela e os parentes. “Perdi meu pai muito cedo, então meio que tomei para mim a responsabilidade de prover tudo o que a minha família merece”, diz. A atleta também diz que chegou a sentir certo receio antes de investir pela primeira vez, mas com a ajuda de profissionais da área passou a entender melhor o rumo que seu dinheiro tomava. Embalada pelo sonho de fundar uma ONG que prepare jovens para o mercado de trabalho, a atleta quer reescrever o destino de outras mulheres que, como a sua mãe, largaram a carreira depois de engravidar. “A história dela é minha motivação para fazer diferente. Não quero ser dependente de ninguém.”

Tayla é jogadora do time feminino do Santos (Foto: Arquivo Pessoal)

Bem longe da ostentação

No caso das atletas femininas de futebol, Renata Lima percebe um comportamento bem diferente do masculino. “Não existe aquela mesma vontade de ostentar ou esbanjar”, diz. “Pelo contrário, elas são muito controladas. Algumas chegam a poupar 80% do que recebem”, completa. Controle que, na maior parte dos casos, é resultado da disparidade salarial entre os gêneros, como exemplifica Tayla: “Eu sou um atleta veterana com passagens pela Seleção Brasileira e ainda preciso gerir muito minha parte financeira para viver de forma ok. E não, eu não vou ser rica, então a diferença é bem grande.” 

Em relação aos investimentos, a assessora afirma que o primeiro passo é estimar quanto as atletlas querem ganhar mensalmente, quais seus projetos de vida para os próximos anos e, por fim, quanto tempo resta na ativa. “É um valor total muito pessoal, mas o cálculo é feito com base nessas informações”, explica. Ela também afirma que não há hora certa para iniciar esse cuidado, mas que como o tempo é o principal obstáculo desse grupo, quanto antes melhor. 

Segundo ela, o interesse por uma gestão financeira desse tipo está crescendo entre os atletas, principalmente agora que os conteúdos sobre o assunto se tornaram tão acessíveis. Esse é, inclusive, um dos segredos da profissional para tranquilizar as seis jogadoras que atende atualmente. “Abordar o tema com uma linguagem acessível ajuda a fazer com que elas percam o medo sobre o destino do dinheiro, ainda mais nesse ramo onde, normalmente, elas já foram vítimas de contratos ruins ou más intenções”, diz. 

Além disso, destaca Renata, a jornada rumo à independência financeira não traz benefícios só para o futuro. Com o sentimento de que não devem nada a ninguém e que podem trocar as rédeas da carreira a qualquer momento, as jogadoras acabam mais seguras e tranquilas até mesmo dentro de campo. “Se acontecer uma eventualidade, como uma lesão, elas podem decidir se aposentar mais cedo ou ficar em paz se o corpo não suportar mais esforço”, salienta. 

Para as jogadoras do Santos, a hora de deixar o gramado vai, aos poucos, começando a se vislumbrar. As duas estimam que terão por volta de cinco anos mais na ativa, mas uma vida inteira para investir. “Tem essa questão chata do salário ser ‘um pouco muito menor’ [risos] e é claro que eu quero ter a minha grana, mas nós somos apaixonadas pelo que fazemos. Estamos aqui por amor à modalidade”, diz Thaisinha. 

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