De trainee a presidente: como Lídia Abdalla chegou ao mais alto cargo de um dos principais grupos de saúde do país

Há 22 anos na companhia, executiva enfrentou momentos mais difíceis durante a pandemia de Covid-19
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Lídia Abdalla, presidente do Grupo Sabin. (Foto: Divulgação)

Lídia Abdalla é uma executiva conhecida na área médica. À frente da presidência do Grupo Sabin, tem conduzido uma série de modernizações na operação do negócio, desenvolvido novos produtos e conquistado um espaço cada mais importante no setor. O que nem todo mundo sabe, no entanto, é que ela começou na companhia como trainee, há pouco mais de duas décadas.

Um ano depois de desembarcar em Brasília, em 1999, Lídia recebeu a notícia de que tinha sido aprovada no processo de trainee da empresa de medicina diagnóstica. Naquela época, o laboratório ainda não tinha tanto destaque, e sua operação estava restrita à capital federal.

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Natural da cidade mineira de Alpinópolis, a então recém-formada em Farmácia-Bioquímica pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) aceitou a oferta, mas sem imaginar que construiria toda a sua carreira por lá e chegaria ao posto mais alto da empresa, que hoje está entre os cinco maiores grupos de medicina diagnóstica do país. Lídia está há tanto tempo na empresa e passou por tantas fases de amadurecimento no negócio, que brinca ao dizer que sua carreira praticamente evoluiu junto com o Sabin. 

“Muitos me questionam se passar todo esse tempo num mesmo lugar não é ruim. O que eu sempre digo é que se uma companhia segue com a mesma atuação e tamanho ao longo dos anos, talvez seja. Mas esse não é o caso do Sabin.”

Fundado em Brasília por duas mulheres, as bioquímicas Janete Vaz e Sandra Soares Costa, a companhia possui 37 anos de história e, atualmente, está presente em 12 estados e no Distrito Federal. São 6.200 colaboradores nas 305 unidades distribuídas em todas as regiões do país e mais de 5,7 milhões de clientes atendidos nas 59 cidades em que a empresa atua.

Lídia conta que sempre quis trabalhar com medicina laboratorial. “Quando eu cheguei a Brasília, busquei oportunidades para atuar nessa área e fui aprovada no Sabin. Era uma empresa pequena ainda”, diz ao lembrar que o time não passava de 90 funcionários na época.

Para crescer, a estratégia era investir em centros de qualidade, novos sistemas, tecnologia e na estruturação da área de gestão de pessoas de liderança. “Como o laboratório era pequeno, eu passei a liderar a área técnica. Primeiro como coordenadora e, em seguida, como gerente”, lembra a CEO. 

À medida que a empresa crescia, a farmacêutica procurava caminhos para acompanhar. Foi buscar formação complementar dentro e fora da área de saúde, com cursos de liderança e conhecimento administrativo. Em 2007, finalizou o mestrado em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (UnB) e, em seguida, concluiu o MBA em Gestão Empresarial pela Fundação Dom Cabral (FDC).

Sem sacrifício

Com dez anos de casa, Lídia passou, em 2009, a exercer a função de superintendente técnica, na qual teve a oportunidade de participar do planejamento da expansão nacional do grupo. Cinco anos mais tarde, em 2014, assumiu a presidência da empresa. 

“Fui escolhida porque conhecia a operação, o setor de saúde, a cultura organizacional e todas as áreas da empresa. Quando assumi a presidência, o desafio era seguir crescendo geograficamente, diversificando o negócio”, conta.

Com o avanço da tecnologia, o grupo passou a investir em outros modelos de negócio convergentes com o setor, como startups de atenção primária e de prontuário médico. Hoje, são 3.500 opções de produtos e serviços de análises clínicas, diagnósticos por imagem e check-up executivo, além da oferta de imunização, que inclui mais de 30 vacinas em 27 unidades distribuídas por oito cidades brasileiras. A empresa também tem 25 unidades hospitalares e outras 14 unidades de diagnóstico por imagem.

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Parte essencial do crescimento do Sabin, Lídia considera que suas escolhas profissionais para o seu melhor desenvolvimento não foram sacrifícios. Hoje, aos 47 anos e um filho de 14, que nasceu em 2007 quando já era gerente, ela avalia que a cultura da empresa a ajudou a formar uma família sem que isso fosse um impeditivo de desenvolvimento.

“É claro que, ao longo da nossa vida, a gente tem que fazer muitas escolhas. Muito tempo de dedicação, estudo, formação e trabalho. Eu abri mão, muitas vezes, de estar com a minha família para estudar, viajar ou trabalhar. Agora, o que eu digo é que não fiz sacrifícios, porque eu gostava e acreditava no que eu estava fazendo. E sei que estou deixando um legado, gerando empregos e impactando a vida das pessoas que estão convivendo comigo”, diz.

Valorização da mulher como um pilar

Lídia reconhece que trabalhar numa empresa que valoriza a mulher faz toda a diferença. “Nós podemos seguir as nossas escolhas pessoais e profissionais sem ter que optar entre ter um filho ou crescer.” Atualmente, cerca de 77% dos funcionários do grupo são mulheres, sendo 74% em cargos de liderança. A média brasileira é de apenas 40%.

“Nós acreditamos que o nosso exemplo é muito forte. Falar, contar histórias, ler livros e teorias é uma coisa. Ter exemplos mostrando que é possível chegar lá é outra. O Sabin é a trajetória de duas mulheres que sonhavam em ter uma empresa e conseguiram. E é a minha também. De alguém que sai do interior de Minas, mudou para Brasília sem conhecer ninguém e hoje é CEO de uma grande empresa brasileira. Por isso, contar a nossa história é um papel social”, avalia. 

Lídia se orgulha ao dizer que o grupo coleciona prêmios e reconhecimentos pela gestão que influencia o protagonismo feminino, e que é signatário dos sete Princípios de Empoderamento das Mulheres, estabelecidos pela ONU Mulheres.

Os desafios da pandemia

Lídia reconhece que o início da pandemia de Covid-19 não foi fácil. Ninguém sabia o que era o vírus e houve uma corrida no mercado por equipamentos de proteção individual (EPIs). “Começamos a acompanhar a questão da Covid-19 desde o fim de 2019 com nossa equipe de pesquisa. Mas eu digo que, aqui no Brasil, não conseguimos estimar o que vinha pela frente, principalmente para o setor de saúde. Em março, fomos literalmente atropelados, como todo o país”, lembra. 

Com a crise sanitária, o Brasil registrou uma queda nas cirurgias e o grupo fechou 30% de todas as unidades físicas, já que muitos pacientes foram para casa. “Tivemos que dar férias para um terço dos nossos colaboradores, começamos a estabelecer os protocolos de segurança e passamos a dar suporte todos os dias da semana aos funcionários.”

Estar à frente de uma companhia de saúde em plena pandemia não foi exatamente confortável, diz Lídia. A receita da empresa caiu inicialmente, faltavam insumos e havia muito desconhecimento sobre as medidas de proteção contra o vírus. A executiva conta que a área administrativa ficou em home office, mas 80% dos funcionários precisavam estar presentes em função do tipo de serviço oferecido. “Foi um momento difícil, mas temos uma cultura de decisões rápidas e acertadas.”

IPO não está nos planos – por enquanto

Mas, à medida que a ciência foi tendo mais respostas sobre o novo coronavírus e as vacinas foram sendo criadas, o Sabin se recuperou. Em 2020, o grupo cresceu 19% em receita na comparação com o ano anterior, atingindo R$ 1,2 bilhão. Já em 2021, a expectativa é que o crescimento da companhia fique entre 15% e 20%.

Este ano, a companhia comprou o negócio de análises clínicas do Grupo Doyon, que atua no interior do Mato Grosso, sua 29ª aquisição. Segundo Lídia, o grupo já investiu, até agora, mais de R$ 400 milhões na compra de laboratórios e serviços de imagem pelo país.

Questionada sobre como o grupo avalia um futuro IPO [sigla em inglês para oferta pública de ações], a CEO descarta a iniciativa por agora. “Não temos esse plano no curto e médio prazos. Mas, no que diz respeito à estratégia, vínhamos em um ritmo acelerado de muitas aquisições de startups e aceleradoras, além da abertura de novas unidades em regiões mais interioranas. Com a pandemia, o nosso foco passou a ser ainda mais o digital”, esclarece.  

Também neste ano, o Sabin anunciou o seu primeiro centro de saúde completamente digital, batizado de Rita Saúde. A ideia do negócio é acompanhar de forma integral toda a jornada do paciente, por meio de uma plataforma de telemedicina que vai permitir a interação de toda a rede médica durante os cuidados. O serviço, que também oferece consultas com especialistas, análises clínicas, diagnóstico por imagem, vacinas e medicamentos, deve trazer uma receita de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões anuais nos próximos cinco anos.

O nome é uma homenagem à Rita Lobato, a primeira médica formada no Brasil, na Universidade de Medicina de Salvador, na Bahia. “Valorizamos o protagonismo feminino, principalmente conectado à saúde. E Rita é um nome comum, de tantas mulheres brasileiras.”

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