Como as artes marciais ajudaram Sabrina Zanker a chegar ao cargo mais alto da L’Oréal Luxo no Brasil

Curiosa por natureza, a executiva usou da sua experiência com a psicanálise e com a prática de ninjutsu e muay thai para se destacar no mercado corporativo
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Divulgação
Mentora, diretora geral, mãe e esposa, Sabrina Zanker possui algumas táticas para conseguir equilibrar a rotina (Foto: Divulgação)

Fruto de mãe pedagoga e pai bancário, Sabrina Zanker, diretora geral da L’Oreal Luxo no Brasil, sempre viveu a união de dois mundos dentro de casa: o artístico e o analítico. “Foi até difícil decidir qual carreira seguir. Eu sou a junção da personalidade dos meus pais”, brinca a executiva, que acabou escolhendo a comunicação. Seu MBA, no entanto, foi na área de finanças, em consideração aos seus interesses múltiplos. De certa forma, é essa complementaridade de temas que define Sabrina como pessoa e profissional. 

“Eu sou curiosa, então nunca consegui me especializar em apenas uma área. Já trabalhei em diferentes indústrias, de alimentos e bebidas à beleza. Nessas empresas, sempre olhei a cadeia como um todo, de ponta a ponta. Essa visão ampla me ajudou muito na posição que tenho hoje, como diretora geral, já que estou preparada para diversas problemáticas”, explica. Na vida pessoal, a busca por diferentes aprendizados também é explícita. Por muitos anos, estudou psicanálise e mergulhou na espiritualidade da cultura oriental. 

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“Existe uma Sabrina antes e uma depois da psicanálise”, conta a executiva. “Eu me reconheço como pessoa. Sei o meu lado positivo e as minhas sombras. Também tenho escuta ativa, o que me ajuda a lidar com o meu time.” Por estar aberta a ouvir os desabafos das pessoas à sua volta, Sabrina começou a ser reconhecida como mentora. “Quando eu anunciava que estava saindo de uma empresa, algumas mulheres vinham conversar comigo e dizer que sentiriam muita falta das nossas conversas. Pediam para que continuássemos em contato. A mentoria surgiu de uma forma muito natural. Hoje, acompanho cerca de 10 mulheres.” 

Entre os assuntos debatidos, estão questões da vida pessoal, como equilíbrio de carreira, parentalidade e dificuldade de relacionamento com colegas de trabalho ou até com a família. “Preciso ser muito responsável durante essas interações. Foi a psicanálise que me propiciou isso”, revela. A seriedade com que conduz essas conversas fez de Sabrina uma sponsor da Gaia, a rede de empoderamento feminino da L’Oreal. 

“Nosso objetivo é discutir a equidade de gênero e a importância da interseccionalidade. O time da unidade de luxo é 60% feminino, com muita presença nos cargos de liderança. Talvez já tenhamos espaço para mulheres como eu: brancas e heterossexuais. Mas temos oportunidade para todas as mulheres?”, questiona. “É nossa função, como mulheres privilegiadas, lançar luz sobre esse cenário. Sempre podemos melhorar, então temos que discutir esses assuntos.” 

O LADO ANALÍTICO 

A arte da escuta foi, claramente, uma herança materna – mas, como Sabrina bem destacou, também há muito do seu pai em sua personalidade. Embora esteja mergulhada em mentorias e grupos de conversas, a executiva está presente em todas as áreas da companhia, do departamento de recursos humanos à área de finanças. Como uma obra do destino, o cargo de diretora geral parece se encaixar perfeitamente com a personalidade descrita pela executiva no início da entrevista. “Em 2020, fui chamada para cuidar do marketing, onde eu comandava um time de 70 pessoas. Hoje, sou responsável por toda a gestão, com cerca de 250 funcionários.” 

Gerir a imagem da empresa durante a pandemia de Covid-19 foi uma espécie de preparação para a posição atual. “Eu já estava trabalhando com marketing e com o mercado de luxo antes de entrar na L’Oréal, mas meu foco era na indústria de bebidas”, recorda. “Quando me chamaram, eu já estava morando em São Paulo há 10 anos e queria voltar para o Rio de Janeiro para ficar perto da minha mãe. O convite era o que eu precisava para voltar à minha terra natal com um novo desafio. Eu só não sabia que isso aconteceria junto com a pandemia.”

Mais do que um desafio, o trabalho se tornou um exercício de reinvenção. “Precisei me integrar com os funcionários à distância, em um momento de grande crise de saúde pública. Liderar em meio a incertezas é dificílimo”, conta. Mesmo assim, Sabrina não deixou que as dificuldades a paralisassem. A companhia precisava de uma atuação rápida para que sua imagem continuasse em alta – por mais que o foco do mundo estivesse longe do setor de beleza naquele momento. “Quando falamos de mercado de luxo, as pessoas valorizam muito a experiência. Como proporcionar isso se elas não estavam podendo se encontrar?”, reflete. 

Usar um bom perfume ou uma maquiagem de qualidade não parecia fazer sentido em uma sociedade isolada dentro de casa. Para tentar reverter esse cenário, Sabrina levou a experiência do mercado para as redes sociais. Com a ajuda de influenciadoras, festas digitais e e-commerce, a executiva começou a vender a ideia de que era possível se embelezar mesmo na reclusão do lar. Uma experiência para a autoestima, não para o contato com outras pessoas. “O nosso e-commerce dobrou de tamanho em 2020. Foi um projeto muito importante, tanto para o momento que estávamos passando, quanto para o pós-pandemia, já que destacamos o benefício de comprar produtos de luxo no Brasil”, explica. 

“Antes da pandemia, as pessoas gostavam de comprar esses itens em viagens internacionais. Realmente, comprar em uma loja de frente para a Champs Elysée, na França, é bem mais legal do que comprar online. Mas, com o valor da moeda atualmente, comprar no Brasil é até 30% mais barato.” Em cerca de um ano, Sabrina conseguiu comandar uma mudança no modelo de negócio da L’Oréal Luxo, mostrando-se preparada para um desafio ainda maior como diretora geral, cargo que assumiu em 2021. “Saí de uma função específica para olhar o todo.”

O “todo”, para a executiva, envolve metas ambiciosas. “A categoria de cosméticos de luxo ainda é muito pequena no Brasil em relação ao resto do mundo. Enquanto em alguns países da Europa ela chega a 20% de todo o segmento de beleza, aqui não passa de 3%”, destaca. “Queremos fazer essa pizza crescer.” Seu foco é cultivar um time forte, desenvolver um mercado incipiente, impulsionar a equidade de gênero e – não menos importante – ter uma vida equilibrada como mãe, esposa e (simplesmente) Sabrina. Para conseguir equilibrar tantos pratos, ela lança mão de uma atividade que aparenta ser muito distante do mundo corporativo: as artes marciais.

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NINJUTSU E MUAY THAI 

Como uma boa curiosa, Sabrina sempre estudou diferentes culturas e religiões. Em contato com o taoísmo e o budismo, encontrou o reiki, um exercício de cura oriental que a ajuda a centrar as energias. A medicina alternativa, no entanto, não é o único contato da executiva com a cultura do oriente. Na adolescência, ela foi apresentada ao ninjutsu, uma arte marcial japonesa que surgiu a partir da necessidade de formar espiões durante o período medieval japonês. “Após o primeiro contato, eu não parei. Além do ninjutsu, já pratiquei kung fu e muay thai. Atualmente, faço muay thai online, por uma questão de rotina. É um exercício que me traz equilíbrio para o corpo e para a mente”, explica. 

“Acredito que as artes marciais geram um senso de disciplina e superação muito grande. Isso se conecta muito com o mercado corporativo.” De forma natural, o contato da executiva com a cultura a ajudou no processo de liderança. Hoje, analisando as práticas, ela reconhece alguns pontos de aprendizado que acabou levando do tatame para o escritório e que descreve a seguir: 

  • A leveza de não se cobrar tanto 

“Foram anos de terapia e psicanálise para que eu entendesse que não consigo entregar tudo sempre. Não sou uma super heroína, preciso aceitar os meus erros. Teve dias que meus filhos almoçaram pipoca de microondas na pandemia”, revela, entre risadas. “Estamos fazendo o possível, então precisamos levar a rotina com leveza.” Como líder de uma equipe de 250 pessoas, a leveza é saber delegar. “Meu trabalho é fazer as perguntas corretas, não saber todas as respostas. Não posso cuidar de tudo. Meu papel é saber direcionar e valorizar os talentos do meu time.” 

  • O poder de se mostrar vulnerável 

“Talvez esse tenha sido o aprendizado mais difícil para mim”, adianta a executiva. Com uma família que teve origem no leste europeu, ela conta que o costume de se mostrar vulnerável nunca foi comum dentro de casa. Mesmo assim, ela precisou aprender a se abrir para alcançar uma boa liderança. “Quando você se abre com os seus funcionários e diz que não está bem, por exemplo, você se mostra como ser humano. Eu não sou uma gestora inalcançável, sou uma pessoa com medos e incertezas, assim como todos que trabalham comigo”, explica. “Foi um aprendizado difícil, mas talvez seja o mais importante.” 

  • A importância do equilíbrio entre corpo e mente 

“Eu gosto da teoria da pizza, que ressalta o quanto a sua vida precisa estar equilibrada em todos os eixos. Se o foco for apenas o trabalho ou apenas a família, dificilmente você vai se sentir bem”, opina. Para ela, as artes marciais vão além de uma prática física, são atividades que estimulam o pensamento, mostrando a importância do equilíbrio entre corpo e mente, seja para praticar o muay thai ou para ter uma dinâmica que ajude a conquistar o sucesso no mundo corporativo.

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