Letícia Lanz: economista, psicanalista, ativista política, marido, pai e avô

A pesquisadora, referência brasileira no tema transgênero, revela sua autodescoberta, vida familiar, opiniões políticas e, sobretudo, sua paixão pelas mulheres
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Letícia Lanz: “Eu sou aquilo que você pode chamar de mulher transgênera lésbica”. (Foto: Luiz Fernando Ogura)

Foi uma experiência de enfrentamento da morte que fez Letícia Lanz nascer, ou renascer, aos 50 anos de idade. O corpo pediu socorro para revelar a verdadeira essência.

A transição de gênero trouxe também a necessidade de uma radical mudança profissional. O meio corporativo em que o economista havia feito bem-sucedida carreira de consultor não aceitou a profissional dos negócios Letícia Lanz. Ocorreria, então, outro renascimento, desta vez para uma carreira iniciada do zero na área de psicanálise.

O esforço de autodescoberta se transformou em estudos acadêmicos e livros que são referência no Brasil quando o assunto é transgênero.

Letícia é feminina e ama as mulheres. Na verdade, as idolatra. É marido, pai e avô. É psicanalista, ativista e política. Sobretudo, valoriza o cuidado e o amor, características que, em sua opinião, são próprias das mulheres.

Esta entrevista não conta apenas uma história pessoal de descoberta, mas mostra como a felicidade está, justamente, na sinceridade que cada um pode ter consigo mesmo. Letícia também fala sobre o recém-lançado livro “A Construção de Mim Mesma”. 

Acompanhe, a seguir, os melhores momentos da conversa entre a Elas Que Lucrem e Letícia Lanz:

Elas Que Lucrem: Conte-me sobre o livro.

Letícia Lanz: Eu sempre começo dizendo que eu nasci macho porque a natureza fornece as pessoas em duas categorias: macho e fêmea. Ela também fornece nas categorias intersexual e nulo, mas estas não têm tanta significância estatística. Macho quando tem um pênis, fêmea quando tem vagina, vulva e útero; intersexual quando tem as duas coisas; e nulo quando não tem nenhuma das duas. Essa última é uma condição raríssima que vem de algumas síndromes, como a que ocasiona o baixo ventre aberto desde o umbigo até o ânus, sem nenhuma formação de órgão genital.

Autobiografia de Letícia Lanz lançada em dezembro de 2021: “Eu passei boa parte da minha vida no armário. Aos 50 anos, eu tive um prêmio do meu corpo que foi um enfarto e fui parar na UTI. É assim que começa meu livro” (Foto: Luiz Fernando Ogura)

A lógica da sociedade é assim: nasceu com pênis é classificado como homem, nasceu com uma vagina é classificada como mulher. Se nasceu intersexual, as pessoas saem correndo para cortar ou costurar a fim de que possam classificar nesse grupo binário, naquilo que chamamos de dispositivo binário de gênero. Gênero não é sexo. Sexo genital é aquele que a sociedade se apropria para poder desenvolver toda essa lista de comportamentos, de funções e atribuições às pessoas em função do seu órgão genital. Um fenômeno muito comum é que, às vezes, o modelo de socialização e de aculturação, que é muito baseado em terrorismo e vigilância de gênero desde a infância, não funciona com algumas pessoas. E elas acabam se identificando com o que não deveriam se identificar. Não há nada que assegure que essa identificação ocorrerá, mas a sociedade espera e estimula ao máximo para que isso aconteça e tenta de todas as formas que a pessoa jamais saia da identificação proposta. A minha história começa aí.

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Eu sou um macho que, desde a infância, identifica-se com o mundo feminino. Eu nunca me identifiquei com o mundo masculino. Meninos gostam de caminhãozinho e, na minha infância, eu queria brincar de casinha, de boneca, que também são modelos propostos pela sociedade. Você se identifica com aquilo porque é o que tem. Se eu não gosto daquele, provavelmente eu gosto do outro. Ah, mas era proibido gostar porque eu não tinha o passaporte. Quando chegou a minha adolescência, piorou um pouquinho mais porque, além de não gostar nem um pouco do mundo masculino, nem querer de todas as formas pertencer ao mundo feminino, eu também me identificava, como termo de orientação sexual, com mulheres. Eu nunca me interessei por homens. Então, eu sou aquilo que você pode chamar de mulher transgênera lésbica.

Letícia Lanz: “Eu sou um macho que, desde a infância, identifica-se com o mundo feminino” (Foto: Divulgação)

Quando você imagina isso há 70 anos, não havia a menor condição de entender. Agora, me vê falar com esta clareza de coisas bem óbvias. Eu passei uma vida bem chatinha, porque a única forma que eles entendiam que eu poderia estar nessa sociedade era como homem. E, realmente, funcionou. Eu passei boa parte da minha vida no armário. Aos 50 anos, eu tive um prêmio do meu corpo que foi um enfarto e fui parar na UTI. É assim que começa meu livro.

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EQL: Como foi essa experiência?

LL: Lá na UTI, eu decidi: “Chega! A brincadeira chegou a um limite. Ou eu morro aqui ou me assumo”. Então, a minha história como Letícia, embora tenha começado na infância, só teve um desfecho quando cheguei aos 50 anos. E não foi muito agradável para mim porque eu fui muito mal-recebida pelos chamados movimentos que defendem as pessoas transgêneras, já que eles são muito binaristas. Eles não admitiam, na época, há 20 e tantos anos, que pudesse haver uma pessoa que quer transicionar para o gênero feminino e, ainda assim, gostar de mulheres.

Eu tive uma luta muito grande – e tenho até hoje – que me obrigou, apesar de ter uma base universitária básica da área de economia e administração, com pós-graduação e mestrado e o trabalho de uma vida inteira nesta área, a voltar para a universidade a fim de consolidar os meus conhecimentos sobre gênero. E, a partir daí, produzir o único livro que existe em língua portuguesa, “O Corpo da Roupa”, uma introdução aos estudos transgêneros.

Com Rogéria: “Apesar de nós acharmos que estamos numa época mais aberta, é absolutamente mentira. Nós não tivemos revolução sexual nenhuma. Pelo contrário, o momento atual é muito retrógrado” (Foto: Divulgação)

Eu era um consultor de empresas com muito prestígio. Estava, seguramente, entre os cinco melhores da minha área no país. Eu tinha agenda cheia de janeiro a dezembro e uma conta bancária cheia de zeros. Da conta bancária, só ficaram os zeros. E, da agenda, não ficou ninguém. Eu fui totalmente abandonada pelo meio empresarial – como se eu tivesse morrido -, sendo que meu trabalho sempre foi impecável, com muita responsabilidade e dedicação. Por isso, além de me transicionar naquela época, também tive que me reinventar profissionalmente. Voltei a me dedicar à psicanálise, que era um campo do qual eu sempre gostei a vida inteira, ligado às minhas próprias pesquisas a meu respeito. Fechei o ciclo psicanalítico e comecei a clinicar. E foi assim que eu me recompus. Hoje, eu trabalho basicamente com a clínica psicanalítica.

Eu me casei com uma mulher sensacional, que não sabia nada a meu respeito. Assim se passaram 25 anos da nossa vida. Hoje, são 45 anos de casados. Eu nunca me interessei em abrir isso porque eu achei que era um conflito que me pertencia. Não pertencia a ela. Mas, quando veio à tona, ela foi a primeira pessoa que me aceitou, que me cuidou e me cuida.

Hoje, eu me sinto à vontade no meu papel de pai, de marido, contrariando outra coisa que o gueto me exigia: “Agora você não é mais pai, você é mãe”. Não, eu sou pai! O conflito de gênero sou eu que tenho. Eu não tenho conflito com os papéis. Eles têm conflito comigo por achar que, além do gênero ser atado ao seu sexo genital, os papéis também são. Não é assim. Tanto que as mulheres mostraram isso ao longo dos últimos 100 anos assumindo todos os papéis dentro de casa que eram exclusivos do homem.

EQL: São quantos filhos?

LL: São três filhos e cinco netos. A mais novinha está com três anos agora. Nenhum deles me conheceu como Geraldo. Então, eu sou o vô Letícia.

EQL: Para as crianças, tudo parece muito simples.

LL: Simplérrimo. Você nem imagina as perguntas geniais que eles me fazem. Um dia, um deles chegou aqui, no consultório, e abriu a porta convicto, como se tivesse tido uma aula a respeito. Virou, olhou para mim e perguntou: “Vovô, por que você se veste como mulher?”. “Porque eu gosto”, respondi. “‘Gosta?”, ele devolveu. “Igual você, que gosta de se vestir de Batman, Super-Homem e Naruto”, eu disse. “Ah, é? Legal.”

Resolvido. Ali, ele percebeu que existe toda uma performance de identificação de um sujeito com um personagem social, sociológico e antropológico.

Letícia Lanz: “Esta regra macho-homem e fêmea-mulher é uma regra sagrada, embora não tenha nenhum fundamento na natureza. O fundamento é todinho cultural. Ele é sócio-político-cultura” (Foto: Luiz Fernando Ogura)

EQL: Qual o perfil dos seus clientes? Eles procuram estar com você pela sua história ou não necessariamente?

LL: Não necessariamente. Vou dizer pra você que, das 15 pessoas com quem trabalho hoje na análise, só duas têm alguma questão relacionada a gênero. Mas não vieram trabalhar comigo porque facilitaria. Esse ponto que é muito favorável. Talvez, elas tenham vindo por sentirem que eu estou em um campo de verdade, que não tem como esconder ou omitir. O mais curioso é que, quando comecei a clinicar, eu ainda não vivia 24 horas como Letícia. Então, eles me conheceram na condição de Geraldo. E eu tenho cliente que permanece comigo. E outros que voltaram. Isso me deixa muito feliz porque, quando fui alijada do processo empresarial, fiquei muito triste, muito frustrada, porque a percepção era de que não me queriam por causa da minha condição. A clínica me mostrou que esse não é o caso. Eu já fiz até abertura de congresso da Sociedade Psicanalítica, que é um órgão muito fechado.

EQL: Ainda temos muita repressão e muita gente que não se descobre ou não se permite mostrar a verdadeira essência por uma vida inteira. Uma vida inteira de repressão. Isso é gerador de muitos problemas na sociedade?

LL: Exatamente. Você sabe que esta regra macho-homem e fêmea-mulher é uma regra sagrada, embora não tenha nenhum fundamento na natureza. O fundamento é todinho cultural. Ele é sócio-político-cultural. Eu cito muito o apóstolo Paulo em Romanos 7:7 que diz assim: “Eu pequei porque tinha norma. Mudem a norma que eu paro de pecar”. A norma é cruel.

Apesar de nós acharmos que estamos numa época mais aberta, é absolutamente mentira. Nós não tivemos revolução sexual nenhuma. Pelo contrário, o momento atual é muito retrógrado. As pessoas estão muito agarradas a normas que pareciam totalmente superadas. Isso muito em função do avanço da mulher nos últimos 100 anos, que colocou o homem em desespero por perder o espaço que sempre teve durante 10 milênios.

Letícia Lanz sobre eleições em 2022: “Eu me sinto este ano muito angustiada e deprimida por não poder levar isso adiante, por não ter os canais. Eles estão fechados e binários na mídia e nos espaços políticos” (Foto: Divulgação)

Agora, mesmo com alguma abertura, é muito duro fazer uma transição. É descer ao inferno muitas vezes. E nem todo mundo está disposto a isso. Eu conheço juízes, médicos, advogados, dentistas e políticos que têm uma condição transgênera, mas ela é mantida no armário. Muitas dessas pessoas morrem sem se manifestar, sem se expressar. Sem falar naquelas que se suicidam. Na medida em que você não tem espaço para ser você mesma, para expressar o seu desejo nesse mundo, você se torna uma pessoa presa.

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Uma imagem que eu tenho sobre isso é a de um gato preto, preso dentro de um quarto escuro, morrendo de fome. O desejo adquire esta dimensão caótica. Um grande desespero. Isso pode se transformar em formação reativa, contrária. A pressão por expressão ao desejo de transição de gênero vira transfobia. A pessoa se torna agressiva. A impossibilidade de se assumir é outra área terrível, tem a questão da orientação sexual. A pessoa tem uma orientação homossexual e não consegue expressar e, por formação reativa, passa a ser uma dura combatente da homossexualidade levando, muitas vezes, a doutrinas religiosas fundamentalistas, ideologias de direita e extrema direita muito agressivas e violentas.Um grande líder do movimento LGBT nos Estados Unidos, o Milk – tem até o filme – tinha como lema o seguinte: fora dos armários para as ruas. Porque é uma vida indigna, é muito terrível você ter que se refugiar. Você sabe muito bem o que acontece com um executivo se vaza em uma rede social, por exemplo, esse cara montado participando de uma feira de drag. É o fim da carreira, porque impera toda uma moral que atua no campo da identidade de gênero e na orientação sexual, embora ela seja muito leniente quando se trata de uma questão envolvendo grana, golpes… Aí, ela não liga, não. Mas na questão de identidade de gênero e orientação sexual, ela exerce um controle gigantesco.

Letícia Lanz: “Eu digo que os homens, para conquistarem o que a mulher conquistou nos últimos 50 anos, teriam destruído o planeta umas dez vezes. E as mulheres não deram um tiro. Elas conquistaram com classe, elegância, responsabilidade e amor” (Foto: Luiz Fernando Ogura)

EQL: Como foi sua aproximação da política?

LL: Eu sempre fui filiada ao PSOL, em Curitiba. Fui candidata a deputada federal. Sempre por este aspecto demagógico de ocupação de espaço mesmo. No ano passado, aconteceu isso de novo. O pessoal do diretório me procurou e me disse: “A gente precisa de uma candidata a prefeita”.

Eu ri pra danar. Mas fui indicada pelo partido de forma unânime porque, na outra corrente, a pré-candidata era uma advogada grande amiga minha, que abriu mão para ser minha vice. Foi uma construção muito bonita de um discurso renovador, porque o mal de que a esquerda padece é ter um grande número de esquerdo-machos modelados há 200 anos, cujos pensamentos não se abrem para outras possibilidades e outras estratégias. Curitiba é uma cidade muito conservadora e fui extremamente bem recebida, inclusive pelas demais candidatas.

O meu discurso era da economia de mercado e da economia do cuidado. A economia do mercado nessa visão neoliberal predatória, individualista e egoísta que precifica tudo e torna tudo mercadoria. A economia do cuidado é a mais antiga da humanidade, é a economia feminina por excelência que, literalmente, cuida das pessoas. Sem ela, nem eu, nem você estaríamos aqui agora e, mesmo assim, ela jamais entrou no cálculo do PIB. Esse trabalho volumoso e assustador gerado e desempenhado todo por mulheres não entra no cálculo do PIB. Nenhum grande economista se preocupou com isso. Nem o Marx que era tão interessado no bem-estar das massas, no poder das massas. Essa economia do cuidado, para mim, é a grande saída que temos. É feminina e baseada em colaboração, ajuda mútua, visão de coletividade. A mulher traz isso aos negócios. A maior parte dos negócios conduzidos por mulheres traz essa visão de coletividade.

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Vi uma notícia triste na “Folha” de que as ações da Magazine Luiza estão caindo por causa das posições políticas da Luiza. É um absurdo, porque ela tem essa visão de cuidado e sai à frente em todas as campanhas que envolvem melhorar a condição das pessoas. Mas o mercado pune. O mercado é masculino, predador e não está preocupado em cuidar. Só em lucro. Então, eu trouxe a mensagem e eu amei ser porta-voz disso. Eu me sinto este ano muito angustiada e deprimida por não poder levar isso adiante, por não ter os canais. Eles estão fechados e binários na mídia e nos espaços políticos.

Letícia Lanz: ” Eu vejo neste ano o mesmo conflito voltando, o conflito do feminino com o masculino. Eu entendo que o Brasil é um país naturalmente feminino, mas com um grau de repressão e de rejeição dessa feminilidade muito grande”. (Foto: Luiz Fernando Ogura)

EQL: A gente tem um ano pela frente que não deve ser fácil na economia e na política. Queria saber quais são as suas grandes preocupações com o Brasil em geral?

LL: Sem querer ser simplista, eu digo que nós temos sim uma luta de gêneros. Que todo esse recrudescimento que houve para o lado de valores masculinos exacerbados que a gente chama do valor do patriarcado, valores machistas, isso tudo foi porque a mulher saiu da condição de ser movente na Constituição brasileira de 1924, o que era equivalente a uma vaca, a um burro de carga.

A mulher ocupa hoje todos os postos que ela quiser na sociedade, ainda com restrições medonhas, porque essa ocupação não se faz de maneira pacífica. É uma luta diária para a mulher se afirmar nos espaços de trabalho, já que a tendência é que o homem seja o valorizado, o incensado da história, e a mulher fique naquela condição de subalternidade que teve durante milênios.

Esse acirramento da disputa de espaços do lado da mulher é resolvido de uma maneira sempre muito polida e elegante. Eu digo que os homens, para conquistarem o que a mulher conquistou nos últimos 50 anos, teriam destruído o planeta umas dez vezes. E as mulheres não deram um tiro. Elas conquistaram com classe, elegância, responsabilidade e amor.

O que eu vejo é essa disputa de gêneros. Um patriarcado machista, retrógrado, altamente corrupto e corruptor. Disposto a destruir o planeta da forma que for só para manter os seus ganhos. E vejo uma demanda insatisfeita enorme por uma sociedade do cuidado, em que as pessoas sejam cuidadas. O grande embate é aí.

Quando você olha, por exemplo, para Lula e Bolsonaro, não vejo aqui uma esquerda e uma direita. Eu vejo um cara extremamente feminino, carinhoso, carismático, que carrega criança no colo, beija e chora em velório. Coisa de mulher. Típica. E vejo um outro reprimido, recalcado, terrivelmente imbuído de um espírito de guerra, de destruição. O que está em jogo – e esteve na eleição passada – era isso. De um lado, um professor, homem de família, sempre se dedicando à educação, um cara fino com uma elegância tremenda e, do outro, você tinha um dinossauro, sem nenhum cuidado e que realmente mostrou o que era.

Eu vejo neste ano o mesmo conflito voltando, o conflito do feminino com o masculino. Eu entendo que o Brasil é um país naturalmente feminino, mas com um grau de repressão e de rejeição dessa feminilidade muito grande.  

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