outubro 2, 2024 | por EQL
A ascensão da economia feminina é um fenômeno cada vez mais evidente no cenário mundial. Um relatório do banco Morgan Stanley, intitulado “Rise of ShEconomy”, projetou que até 2030, cerca de 45% das mulheres americanas entre 25 e 44 anos serão solteiras e sem filhos. Esse dado é um reflexo de profundas mudanças nos padrões sociais e econômicos, que estão redefinindo a forma como as mulheres enxergam seus papéis na sociedade e suas prioridades pessoais e profissionais.
Mas o que explica esse aumento significativo na porcentagem de mulheres solteiras e sem filhos nessa faixa etária? Existem vários fatores que ajudam a entender esse fenômeno. Um dos principais é o aumento da idade média das mulheres que decidem se casar. A busca por uma carreira estável e a independência financeira tem se tornado prioridades para muitas delas, levando a um adiamento dos planos de casamento e maternidade.
Além disso, as mulheres estão cada vez mais seletivas em relação a seus parceiros e ao que esperam de um relacionamento. O foco não é mais apenas encontrar alguém para formar uma família, mas sim encontrar uma relação que seja realmente satisfatória e que traga crescimento mútuo. Essa seletividade pode estar relacionada à percepção de que relacionamentos mal-sucedidos e divórcios são comuns, especialmente entre mulheres mais velhas, como aquelas na faixa dos 50 e 60 anos. Muitas dessas mulheres que hoje optam por casar mais tarde viram suas mães ou outras mulheres de gerações anteriores enfrentando divórcios complicados e não querem repetir essa experiência.
Outro ponto importante destacado no relatório é que muitas mulheres preferem se estabilizar em suas carreiras antes de terem filhos. A ideia é que, ao dedicar mais tempo à vida profissional nos primeiros anos da vida adulta, elas poderão desfrutar de maior estabilidade financeira e flexibilidade quando decidirem formar uma família. Dessa forma, acreditam que terão mais tempo para seus filhos e mais tranquilidade em conciliar as responsabilidades da maternidade com a vida profissional.
Esse fenômeno não afeta apenas as mulheres jovens, mas também aquelas pertencentes à geração X — mulheres atualmente na casa dos 40 e 50 anos que já estão consolidadas financeiramente. Essa faixa etária faz parte do que se chama de “economia prateada”, referindo-se ao imenso potencial econômico das pessoas mais velhas que continuam sendo ativas consumidoras. Quando somamos o poder financeiro dessas mulheres mais jovens com o das mulheres da geração X, o impacto na economia é significativo.
O potencial de consumo das mulheres solteiras e sem filhos é enorme. Elas têm mais liberdade financeira para gastar consigo mesmas, investir em educação, lazer e cuidados com a saúde, além de serem mais propensas a consumir produtos e serviços que atendam às suas necessidades individuais e não necessariamente à de uma família. Isso está levando as empresas a repensarem suas estratégias de mercado para atender melhor esse público em ascensão.
No Brasil, esse fenômeno pode estar acontecendo em um ritmo mais lento, mas certamente está em curso. As mudanças nos comportamentos femininos refletem tendências globais, e a busca por independência financeira e pessoal também se faz presente entre as brasileiras. A pergunta que surge é: será que temos uma pesquisa similar no Brasil que explore o impacto dessas transformações na economia e no comportamento social feminino?
A realidade brasileira traz suas próprias particularidades, como uma maior desigualdade de renda e acesso limitado a recursos, o que pode impactar de forma diferente a maneira como as mulheres encaram suas escolhas de vida. Entretanto, o desejo por mais autonomia e liberdade, tanto no campo profissional quanto pessoal, também está moldando uma nova geração de mulheres que priorizam o autoconhecimento e a independência antes de pensarem em casamento e filhos.
De fato, a ascensão da economia feminina está redefinindo papéis e padrões em várias partes do mundo, e o Brasil não fica de fora. A combinação de mulheres que entram mais tarde em casamentos ou decidem não ter filhos, com o envelhecimento de uma geração que continua economicamente ativa, cria uma nova força de consumo, transformando o mercado de trabalho, os serviços e a forma como as empresas abordam o público feminino.
Essas mudanças não dizem respeito apenas ao comportamento das mulheres em relação à carreira, casamento e maternidade, mas também à forma como elas enxergam o futuro e as suas escolhas de vida. O questionamento dos modelos tradicionais de família e a busca por uma vida com mais significado e realização pessoal são parte de um movimento maior que coloca as mulheres no centro de suas próprias histórias, como protagonistas de suas jornadas.
O relatório do Morgan Stanley é apenas um reflexo de algo que já pode ser sentido em várias partes do mundo: a mulher contemporânea está cada vez mais disposta a escolher o que é melhor para si, ao invés de seguir padrões sociais que não atendem mais às suas expectativas e desejos. Essa nova mentalidade traz consigo o potencial de mudar não apenas a economia, mas também a estrutura social como um todo.
E no Brasil, com certeza, já estamos vivendo um prelúdio dessa mudança. Cada vez mais mulheres estão repensando suas prioridades, questionando o status quo e tomando as rédeas de suas próprias vidas. Seja através do empreendedorismo, da educação ou da independência financeira, a nova geração de mulheres brasileiras está se preparando para um futuro no qual as suas escolhas são o que realmente importa. Portanto, se ainda não há uma pesquisa nacional que mapeie essa transformação, fica a sugestão para que se invista em um estudo que possa iluminar as nuances dessa revolução silenciosa que está tomando forma diante de nossos olhos.