Conheça a história do primeiro partido feminino do Brasil

Fundado em 1910 por Leolinda Daltro, a agremiação era conhecida como “as suffragettes brasileiras”
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Conheça a história do primeiro partido feminino do Brasil
Manchete do jornal O Malho sobre a fundação do PRF, em 1910

O direito ao voto feminino no Brasil só foi regulamentado em 1932, pelo então presidente Getúlio Vargas, mas a luta organizada para a conquista do sufrágio feminino no teve início 20 anos antes! Em 1910, Leolinda de Figueiredo Daltro (1859-1935), uma conhecida professora do círculo político da capital, reuniu outras 27 mulheres para assinar a criação do Partido Republicano Feminino (PRF) no Rio de Janeiro, capital brasileira na época. 

No início do século 20, o Brasil passava por grandes transformações sociais com o início da industrialização e da urbanização. Assim, mudanças nos costumes também eram sentidas, como o aumento da educação e da imprensa, além da chegada do cinema.

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 A questão do voto feminino era controvérsia desde a Constituição de 1891, em que dava o direito ao sufrágio para “cidadãos com mais de 21 anos”, mas o conceito de cidadania era voltado para homens. A concepção só começou a mudar com os movimentos sufragistas, realizados em diversos países no início do século, e tinha o direito ao voto para mulheres como uma das bandeiras de questionamento do papel e qualidade de vida das mulheres.  

O Brasil não ficou de fora dessa discussão. O PRF, liderado por Leolinda, tinha como premissa ser formado só por mulheres e propor a emancipação da mulher brasileira e despertar o sentimento de independência e de solidariedade patriótica. Além disso, seu estatuto previa a necessidade de estudar, resolver e propor medidas a respeito das questões presentes sobre o papel da mulher na sociedade e estender à mulher os direitos constitucionais da República para incorporá-la na sociedade brasileira. 

História

Leolinda nasceu na Bahia e casou cedo, como era costume da época. Com dois filhos decidiu se separar. Naqueles tempos, o divórcio era proibido e as mulheres eram “disquitadas”, um processo jurídico de separação de cônjuges e bens, mas sem a quebra do vínculo matrimonial. Após a separação, se mudou para o Rio de Janeiro, em busca de melhores condições de vida. 

Se tornou professora e seu principal trabalho era com a educação e incorporação das populações indígenas sem a necessidade catequizar os povos originários, o que contrariava a ideia educacional vigente. A historiadora Elaine Rocha conta em sua tese de doutorado sobre Leolinda que em 1896 ela percorreu o interior do país promovendo a alfabetização em aldeias indígenas. 

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Apesar de ter uma condição de classe média-baixa, ela foi criando vínculos com importantes figuras da política brasileira, como Hermes da Fonseca, Quintino Bocaiuva, José do Patrocínio e Pinheiro Machado. Também transitava pelos círculos artísticos da capital, sendo próxima da poetisa Gilka Machado (1893-1980), que assombrava a todos com sua poesia erótica e de denúncia da opressão feminina. Gilka, aliás, se tornaria tesoureira do PRF quando criado. 

Artigo escrito pela historiadora Mônica Karawejczyk, publicado na revista Estudos Ibero-Americanos, revela que primeiro ato conhecido de Leolinda Daltro nas vias políticas foi através da congregação de algumas mulheres em apoio à candidatura de Hermes da Fonseca à presidência do Brasil, no ano de 1909, com a Fundação da Junta Feminil pró-Hermes. No mesmo artigo, há reproduções de jornais da época em que Leolinda conta que o PRF nasce de uma reformulação da Junta no ano seguinte como uma pressão em prol do direito ao voto feminino. 

No mesmo ano em que fundou o partido, a ativista dirigia a Escola de Ciências, Artes e Profissões Orsina da Fonseca, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.A instituição era voltada para a educação de meninas e muitas vezes era usada como sede para as reuniões do grupo. Orsina, esposa do presidente Hermes, era grande amiga de Leolinda e chegou a ser presidente de honra da agremiação. Após a fundação do PRF, ela tentou se alistar para votar nas eleições da década de 1910, mas não obteve sucesso. 

O partido só recebeu o registro oficial em agosto de 1911 e as militantes compareceram a todas as solenidades cívicas, inclusive espaços voltados só para homens, na capital federal com o intuito de dar visibilidade a sua causa. Também usavam de seu círculo social para angariar apoiadores nas câmaras legislativas, mas não obtiveram sucesso. 

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Os jornais da época deram ampla divulgação, geralmente negativa, para a agremiação e suas ações. Por usarem táticas de não obediência civil, mesmo que sem violência, a imprensa propagava medo de ações contra a ordem pública em nome do sufrágio feminino, como ocorria em outros países. Leolinda ficou conhecida na época como “a nossa Pankhurst”, em referência à britânica Emmeline Pankhurst, que fundou um grupo sufragista considerado radical, pois apoiava também a  direitos igualitários para as mulheres em áreas como o divórcio e a herança. 

Em novembro de 1917, o partido promoveu uma marcha pelas ruas do Centro do Rio de Janeiro, com a participação de cerca de 90 mulheres, fato que atraiu a atenção da imprensa com destaque. A partir dos anos 1920, Bertha Lutz, filha do médico Adolfo Lutz, dá início a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. A organização passa a dominar as articulações do sufrágio feminino, sem ligação com o PRF ou a política partidária. 

Em 1934, já sob o governo Vargas, o PRF colocou Leolinda como candidata ao Parlamento brasileiro, mas não foi eleita. A professora faleceu no ano seguinte, vítima de um atropelamento. 

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