O Natal também é delas: como é o trabalho de uma Mamãe Noel

Embora a personagem não seja a protagonista das festas de final de ano, a companheira do Papai Noel também tem o seu espaço na temporada
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Divulgação
Antonio e Isabel, casados há 29 anos, trabalham juntos na temporada de Natal (Foto: Divulgação)

Desde 2018, Antonio e Isabel, casados há 29 anos, têm uma agenda de final de ano um pouco inusitada. Em 2019, chegaram a passar a noite da véspera em sete casas diferentes, com famílias e decorações distintas. O calendário apertado diz respeito à popularidade da dupla, conhecida no mundo todo e extremamente requisitada durante o mês de dezembro. De roupa vermelha e presentes nas mãos – caso ainda não tenha ficado claro -, eles formam um casal de Noéis. 

Juntos na vida real e na fantasia, Antônio e Isabel estão longe de ser o único par a atuar como Papai e Mamãe Noel durante a temporada do Natal. Na realidade, segundo a Cia do Bafafá, que agencia o trabalho de Papais Noéis no estado de São Paulo, as profissionais que atuam como Mamãe Noel apresentam um padrão muito comum: muitas delas são aposentadas que acompanham seus maridos, que estão trabalhando como Papai Noel, em suas apresentações. “No primeiro evento do Antônio, em uma festa de condomínio, eu já fui com ele e adorei a experiência”, conta Isabel, de 63 anos. 

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Para ela, essa é uma maneira de passar um tempo com o marido, ganhar uma renda extra e aproveitar a magia do Natal de camarote. Com apenas cinco Mamães Noéis agenciadas pela Cia do Bafafá – em comparação com 60 Papais Noéis -, fica claro que esse mercado é realmente recheado de particularidades. De certa forma, sempre falamos sobre o clássico bom velhinho de barba branca, mas quem é a Mamãe Noel? 

O NATAL TAMBÉM É DELAS

Diferente do Papai Noel ou do Coelhinho da Páscoa, a Mamãe Noel não tem origem no folclore ou na mitologia. Na realidade, foi apenas quando o bom velhinho se tornou uma figura popular e midiática, no começo do século 19, que sua esposa apareceu como uma criação de autores norte-americanos. Em 1889, a poetisa Katharine Lee Bates escreveu um poema chamado “Goody Santa Claus on a Sleigh Ride” (“Dona Noel num passeio de trenó”, em tradução livre), que foi o grande responsável pela disseminação da personagem no imaginário popular. 

Antes disso, a figura feminina já havia aparecido no conto “A Christmas Legend” (“Uma Lenda Natalina”, em tradução livre), escrito em 1849 por James Rees, e nas páginas da revista “Yale Literary Magazine” de 1851, uma revista literária da Universidade de Yale que publicava poesia e ficção criadas pelos estudantes. No entanto, foi apenas em 1889 que a Mamãe Noel começou a ser retratada pela mídia de entretenimento como uma velhinha bondosa de cabelos brancos que fazia biscoitos e auxiliava os elfos mágicos na produção de brinquedos.

De certa forma, ela retratava a imagem feminina materna da época: mulheres em casa fazendo biscoitos e ajudando os homens. Uma clara representação social. No entanto, por mais que os tempos tenham mudado, o trabalho da Mamãe Noel ainda faz muita referência à sua origem. Como o Papai Noel é o “protagonista” da festa, a companheira do bom velhinho surge como uma ajudante, que auxilia no tratamento com as crianças, na organização das filas e até na leitura das cartinhas de natal. “Papai Noel usa um óculos que não tem grau. É um óculos fantasia, que não tem lente para não ter o risco de refletir nas fotos. Por conta disso, muitas vezes eles não enxergam direito, passando esse dever para a Mamãe Noel”, conta Isabel, divertindo-se ao contar sobre o seu trabalho nos eventos. 

“As crianças conversam muito comigo e fazem perguntas sobre o Papai Noel. Já chegaram até a perguntar por que os dentes dele não eram tão brancos”, diz, entre risadas. “Meu trabalho é esse, não tem segredo: organizo a fila, interajo com as crianças, tiro dúvidas e ajudo a entregar as lembrancinhas. A festa é do Papai Noel, mas pode ser minha também. Quando eu não vou, o Antônio diz que as crianças sentem falta dessa figura materna e perguntam onde a Mamãe Noel está. Isso é encantador.” 

No entanto, embora seja requisitada, a Mamãe Noel não recebe a mesma quantia que o “bom velhinho” pelo trabalho da temporada. Para os profissionais que se prepararam para o Natal, cultivando uma barba branca natural e fazendo cursos para lidar com crianças, a renda para os 47 dias de Natal pode alcançar mais de R$ 25 mil, principalmente em grandes shoppings da capital paulista. Antônio, que faz participações em comerciais e grandes eventos, chega a cobrar R$ 700 por aparições de 10 minutos. Um mercado rentável para quem busca renda extra no final do ano. 

As Mamães Noéis, no entanto, recebem cerca de R$ 250 por aparição, segundo a Cia do Bafafá. Os shoppings, por exemplo, são os estabelecimentos que pagam os maiores cachês. O trabalho, claro, é árduo: das 10h às 22h, com apenas uma folga na semana. Porém, dificilmente as mamães noéis são vistas nesses ambientes. Quem ajuda a organizar a fila, nestes casos, são as Noeletes, meninas jovens que podem ganhar até R$ 2.350 pelos 47 dias de temporada. 

“Tem menos opções de Mamãe Noel no mercado, mas, se cobrarmos muito caro, vão nos trocar por duendes ou Noeletes, que cobram mais barato. O salário realmente é mais baixo, mas a carga de trabalho também é menor”, explica Isabel. Segundo a empresa, esse cenário ainda pode mudar, visto que elas começaram a ser inseridas no mercado natalino há apenas cinco anos. Desde então, a presença dessas poderosas aliadas tem crescido nos eventos. Para quem trabalha no setor, as Mamães Noéis são vistas como a representação do lado humano do personagem clássico. Crianças que se assustam com a figura, por exemplo, ficam mais calmas quando percebem que o casal de velhinhos lembra os familiares mais velhos de sua casa. 

A ASCENSÃO DA MAMÃE NOEL 

Em 2019, o Colinas Shopping, em São José dos Campos, interior de São Paulo, apostou em um formato diferente em sua campanha de Natal e fez uma Mamãe Noel assumir o trono do bom velhinho em um horário exclusivo. A iniciativa fez sucesso, atraindo tanto o público feminino quanto a comunidade LGBTQIAP+. Na época, uma fila gigante foi formada para tirar foto com Sueli de Jesus, de 54 anos. Uma ação que, pelas pesquisas da Elas Que Lucrem, não aconteceu novamente em 2021, mas pode significar um avanço do mercado. 

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Seja como companheira do Papai Noel ou como protagonista da festa, a Mamãe Noel parece estar conquistando o seu espaço aos poucos, com muita paciência e carinho pela função. No caso de Isabel e Antônio, a ideia de começar a trabalhar no setor veio da aposentada, que começou a achar o marido muito parecido com o Papai Noel. 

“No meio de 2018, ele estava vestindo uma camiseta listrada vermelha, com a barba bem branquinha, e eu disse que estava a cara do Papai Noel. Peguei um gorro guardado no armário e tirei foto dele fantasiado. Ficou idêntico”, recorda. “Avisei que ia começar a procurar agências para oferecer o trabalho dele como Papai Noel no final do ano. Ele não acreditou em mim, mas eu realmente fui atrás. Em novembro, ele fez o primeiro curso para interpretar o personagem. Em dezembro, começou os trabalhos. E eu fui junto.” 

Decidida, foi Isabel que tomou à frente para que o casal estivesse hoje com a agenda lotada de eventos de Natal – apenas um exemplo de Mamãe Noel independente. Para ela, mais do que a renda extra no final do ano, está a paixão pela magia da data. “É um trabalho que encanta a gente. Vemos aquele brilho diferente no olhar da criança. Ela abraça com pureza, assim como os adultos, que muitas vezes choram ao relembrar a infância. Isso não tem preço.”

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